Este artigo é breve e simples. O terceiro nível semântico trata da mudança de quatro pombas, nas moedas de Eduardo o Confessor, para cinco merletas nas suas armas de fantasia. Pela segunda vez nestas nossas análises, tal como no primeiro nível semântico, C(e) roi ~ Crois, o referente metonimiza Eduardo com a sua condição; de início como rei, agora também como santo. Talvez estes exemplos ilustrem um método suplementar para construir a metonímia do referente mas o facto é que apenas foi possível identificar algumas poucas ocorrências. A esmagadora maioria utiliza metonimizações geográficas.
Esta é a primeira ocasião nesta análise em que o nosso instrumento de verbalização é (ligeiramente) alterado de uma língua de influência, o francês arcaico, para a língua de conquista então ainda usada em Inglaterra, o anglo-normando, a despeito de quase três séculos de coexistência desde que Guilherme o Conquistador atravessou o Canal da Mancha. Resulta que a parofonia obtém-se através de Seint (ano. santo) ~ Cinc (ano. cinco); o índice de discrição correspondente é k = 0. Não nos deixemos enganar pela escrita, os sons são efectivamente iguais, [sẼ] ~ [sẼ]. Observe-se que cinc, quando isolado, pronuncia-se [sẼk], sendo alterado para [sẼ] diante de merlés (ano. merletas) ou de quaisquer outros substantivos no plural que comecem com um fonema consonantal, isto no francês contemporâneo.
Estamos em condições de compreender agora que, uma vez que as moedas foram cunhadas durante a vida do rei, não havia ainda qualquer razão para descrever a sua condição como santo. As pombas, entretanto, representavam a parofonia Edouard ~ Et due harde, visualizada nos seus soberanos de prata. A quantidade era ali apenas uma adaptação da ideia de bando de aves às “reentrâncias” disponíveis em torno da cruz.
Mas agora deparamo-nos com uma especificação muito objectiva: devemos ver cinco pássaros no brasão. O arranjo ideado para este fim usou o espaço adicional na base do escudo, indisponível na moeda, de modo a acomodar a quinta merleta. Nada mais temos a acrescentar. A ideia de “cinco” acompanha-nos desde a ocorrência como designante até a sua concretização em cinco aves. Não há qualquer hipótese de má interpretação neste percurso.
Eduardo o Confessor - Armas de Fantasia (III) | ||||||||||||
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Classificação | ↓ | Descrição | ||||||||||
Armas de Fantasia | R | Eduardo o Confessor | ||||||||||
Condição | M | Santo | ||||||||||
Língua de Conquista | V | Anglo-Normando | ||||||||||
Denominante | A | Seint | ||||||||||
Grafemização | A | S | E | I | N | T | ||||||||||
Fonemização denominante | A | s | Ẽ | ||||||||||
Emparelhamento | A | s | Ẽ | ||||||||||
A | s | Ẽ | |||||||||||
Coeficiente de transposição | A | 0,0 | 0,0 | ||||||||||
Coeficiente de carácter | A | 0,0 | 0,0 | ||||||||||
Coeficiente de posição | A | 0,0 | 0,0 | ||||||||||
Parcelas | A | 0,0 | 0,0 | ||||||||||
Índice de discrição | A | k = 0,0 | ||||||||||
Fonemização designante | A | s | Ẽ | ||||||||||
Grafemização | A | C | I | N | C | ||||||||||
Designante | A | cinc | ||||||||||
Quantidade | E | cinco | ||||||||||
Monossemia simples | S | cinco | ||||||||||
S | cinco | |||||||||||
Esmalte | H | De azul | ||||||||||
Número | H | uma | ||||||||||
Figuração | H | cruz | ||||||||||
Aspecto | H | florenciada | ||||||||||
Esmalte | H | em ouro | ||||||||||
Localização | H | acantonada de | ||||||||||
Número | H | 4 | quatro | |||||||||
Figuração | H | merletas | ||||||||||
Conectivo | H | quatro + mais outra | e | |||||||||
Número | H | 1 | mais outra | |||||||||
Localização | H | em ponta | ||||||||||
Número | H | todas | ||||||||||
Esmalte | H | do mesmo |
(próximo artigo nesta série IV/VI)
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