Quinta-feira, 12 de Julho de 2012

Sagremor: Esmalte Vermelho

Sagremor - Armas de Fantasia

 

Terminamos o estudo pelo primeiro nível semântico por expor-se melhor nesta ordem a organização das armas de Sagremor. Isso não quer dizer que o autor do brasão tenha adoptado uma qualquer sequência predeterminada; pelo contrário, deve ter ensaiado várias possibilidades antes de dar o trabalho por findo. A parofonia é descrita por Ungaria (lat. Hungria) ~ Ungo (lat. unto) area (lat. área), talvez a mais evidente de todas, dado o cognome aposto a Sagremor: o Húngaro. Os seus resultados visuais, muito singelos, diríamos quase exigirem outros componentes que viessem a preencher a excessiva simplicidade de um escudo pleno em vermelho. Convém acrescentar que como nos antecedentes, mantém-se a razoabilidade de um índice de discrição baixo: k = 0,25 e que ao estimar este indicador recorremos à ditongação de oa em ungo area, a emparelhar com Ungaria para alterar-se em Ungoarea.

O tema da parofonia parece afastar-se dos hábitos adquiridos em Aquincenses ~ Ac quini sentes e em Danubius ~ Da nubis ao compor indirectamente o “céu” suposto no pano de fundo das estrelas e da nuvem. Este afastamento é verdadeiro quanto ao modo de sematização da parofonia mas não quanto à representação em si mesma. É perfeitamente possível um céu vermelho à tarde ou pela manhã, admitindo ainda nestas ocasiões a visibilidade da nuvem e das estrelas ou dos planetas mais brilhantes. Contudo, ungo vai aplicar-se primariamente sobre a superfície do escudo especificada em area e apenas depois sobre os céus, como consequência natural do conjunto imagético que se pressupõe coerente. A sematização estabelece a metonímia: área > campo > campo do escudo > escudo. Encontramos um paralelo da unção dos escudos neste trecho do Segundo Livro de Samuel: ... O escudo de Saul não foi ungido com óleo, mas com o sangue dos feridos e a gordura dos guerreiros ...[1]. Tal como nos escudos medievais feitos de madeira e recobertos de couro a boa manutenção exigia uma protecção periódica. Não será, todavia, o óleo a colorir o artefacto de defesa usado por Sagremor, mas a ideia implícita de que era feito ou recoberto de couro, logo avermelhado ou acastanhado, colorações passíveis de inspirar o esmalte vermelho na representação do escudo heráldico.

A conjugação cromática aparenta ser arbitrária mas as dúvidas desvanecem-se ao examinarmos em pormenor a análise já efectuada. A seleccionarem-se convenientemente cores naturais, as estrelas fora do cantão serão amarelas, brancas ou azuis. Do mesmo modo a nuvem poderia ser branca ou negra, enquanto que o escudo de couro tratado pelo tanino apenas admitiria o vermelho. Quanto à estrela encoberta consentiria o negro ou eventualmente o branco, como descoloração do outro esmalte estelar que representasse a luz. Ficamos com as seguintes possibilidades, dispondo as cores pela ordem: estrelas, campo, cantão, estrela do cantão.

Azul + Vermelho + Negro + Prata (não) 
Azul + Vermelho + Negro + Negro (não) 
Azul + Vermelho + Prata + Prata (não) 
Azul + Vermelho + Prata + Negro (não) 
Ouro + Vermelho + Negro + Prata (não) 
Ouro + Vermelho + Negro + Negro (não) 
Ouro + Vermelho + Prata + Prata (não) 
Ouro + Vermelho + Prata + Negro (sim) 
Prata + Vermelho + Negro + Prata (não) 
Prata + Vermelho + Negro + Negro (não) 
Prata + Vermelho + Prata + Prata (não) 
Prata + Vermelho + Prata + Negro (sim) 

É possível observar que das doze hipóteses apenas duas são inteiramente admissíveis. Grande parte das opções é rejeitada pela aplicação da lei dos contrastes. Duas estarão no limite da admissibilidade ao incluir uma nuvem negra, que estimamos não fosse de primeira escolha, além de figurar o esmalte vermelho vizinho ao negro, apesar de por vezes encontrarem-se juntos na heráldica. Finalmente, restam dois arranjos bem-sucedidos dos quais um repete o esmalte do par de estrelas iguais na nuvem, proposta mais pobre do que a oitava combinação, coincidente com a escolha do brasão de Sagremor, o que não nos surpreende. 

Poderíamos ser tentados a associar ungo com a unção das sagrações reais, por Sagremor descender do rei da Hungria e da filha do imperador de Constantinopla. Ainda assim, a experiência nos aconselha a não confundir os planos semânticos da parofonia com os planos estritamente biográficos, não se exceptuando os fantasiosos. A obtenção do desenho está isolada de outros relacionamentos que não os estabelecidos pela metonimização do referente. Mesmo dando-se o caso da possibilidade de escolha entre vários traços heráldicos, temos observado a preferência de acompanhamento dos estilos visuais de cada época, ao invés de escolhas baseadas no percurso particular do representado. Tal porém já não acontece nas armas alusivas.

Apesar disso considerou-se o próprio nome de Sagremor, com uma solução do tipo Sagremor ~ Sacre (fra. sagração) en or (fra. em ouro), seguindo-se contudo os procedimentos habituais. Assim a unção, ao menos desta vez, ligar-se-ia à entronização dos seus ascendentes e imaginaríamos as estrelas como manchas de óleo sobre as vestes régias em vermelho, cor já usada nas cerimónias medievais. O componente en or diria respeito aos utensílios necessários à guarda e aplicação do óleo, também referenciáveis pela história. Esta solução entra em conflito com o plano semântico apresentado anteriormente, que favorece ungo na forma de acção utilitária. Para mais, teríamos de explicar o cantão e a estrela negra, dificuldade de resolução improvável. Preferimos imaginar aqui uma possível interpretação textual, redundante com o que já se propôs, mas de nenhum modo ligada à proposta semântica visual. Resta-nos aguardar por outros estudos sobre os Cavaleiros da Távola Redonda para decidir sobre a existência de algum padrão comum quanto ao uso da antroponímia dos armigerados.

[1] 2 Sm 1, 21-22.

 

 


Sagremor - Armas de Fantasia (I)

Classificação Descrição
Armas de Fantasia R Sagremor
Território M Hungria
Língua de Fantasia V Ungaria (latim)
Denominante A Ungaria
Grafemização A U  |  N  |  G  |  A  |  R  |  I  |  A
Fonemização denominante A u  |  N  |  G  |  a  |  4  |  i  |  a
Emparelhamento A u  |  N  |  G  |  a  |  4  |  i  |  a
A u  | N |  G  | oa |  4  |  e  |  a
Coeficiente de transposição A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0
Coeficiente de carácter A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,5 | 0,0 | 0,5 | 0,0
Coeficiente de posição A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 1,0 | 0,0 | 1,0 | 0,0
Parcelas A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,5 | 0,0 | 0,5 | 0,0
Índice de discrição A k = 0,25
Fonemização designante A u | N | G | o |   | a | 4 | e | a
Grafemização A U | N | G | O |   | A | R | E | A
Designante A ungo | area
Acção + Geometria E unto + área
Monossemia simples S vermelho
S unto o escudo
Metonímia simples S área > campo > campo do escudo > escudo
Esmalte H avermelhado De vermelho
Imanência C couro
Contraste C ouro, prata
Número H um
Separação H cantão
Esmalte H de prata
Conectivo H e
Número H três
Figuração H estrelas de cinco pontas
Número H duas
Esmalte H de ouro
Conectivo H e
Número H uma
Esmalte H de negro
Localização H no cantão

(próxima análise neste blog aqui)



Publicado por 5x11 - Carlos da Fonte às 00:30
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