Quarta-feira, 12 de Setembro de 2012

Eduardo O Confessor: Redundância do Escudo

Edward the Confessor - Attributed Arms

 

O Confessor

Este sexto e último nível semântico era de tal modo imperceptível que apenas encontrou-se ao concluirmos as nossas análises. Uma das razões foi que não afectava categoricamente qualquer traço heráldico como cores ou formas, redundante com tudo aquilo que tínhamos já tratado antes. Para este nível usámos o cognome de Eduardo - o Confessor - que poderemos classificar no género antroponímico relativo à metonímia do referente. É interessante observar que, comparando-o às outras descrições utilizadas: Rei, Santo, Eduardo e winchestrense, será este o mais característico. Os demais apenas fazem sentido quando reunidos mas “o Confessor” tem a qualidade de poder evocar facilmente a nossa referência, Eduardo, mesmo quando sozinho, porque existiram muitos outros reis, santos, Eduardos e winchestrenses.

Como não resultou nenhum efeito heráldico deste nível deveríamos duvidar da adequação de considerá-lo na análise. Uma grande virtude seria despistar quaisquer incompatibilidades entre os diversos níveis. Obviamente isto será mais vantajoso se detectado durante as etapas analíticas iniciais. A parte mais difícil dos nossos estudos é a recolha de parofonias razoáveis, que combinem-se adequadamente umas com as outras ao integrarem um enredo heráldico. No início de cada investigação, quando nada se sabe sobre a motivação dos traços heráldicos, uma vez que se encontre um direccionamento tendencial, todos os níveis semânticos estão obrigados a obedecê-lo.

Um benefício adicional será determinar se um tal comportamento reproduz-se consistentemente no nosso corpus, levando eventualmente à descoberta de outras associações, apenas aparentes pela observação das ocorrências como um todo. Foi este o procedimento que nos permitiu identificar a maior parte da estrutura implícita nas parofonias, desenvolvendo as tipologias que nos auxiliaram a estabelecer vínculos comuns a armas distintas.

 

O que Fazer

A organização motivacional é muito peculiar neste exemplo das armas de Santo Eduardo, uma vez que o enredo parece criado por dois autores distintos, separados por centenas de anos. O mais antigo, ligado à representação numismática, refere Eduardo como rei; o mais recente descreve a sua glorificação como santo. Se não soubéssemos da existência das moedas tudo seria muito mais difícil. O exame semântico poderia desviar-se para soluções diferentes, presumivelmente piores, ou até deter-se porque, por exemplo, a palavra anglo-normanda mais usada para designar um soberano era rei e não roi.

A parofonia encontrada é Confessur (ano. Confessor) ~ Qu'hom fait sur (ano. que se faz sobre). A forma moderna em francês, qu'on, dissimula a origem da palavra, ligada a uma forma impessoal de hom (ano. homem), actuando como um ou nós. A frase está incompleta e devemos buscar o termo que consumará o seu possível significado. No presente contexto poderemos apenas sugerir o substrato heráldico para esta função. Após determinarem-se todas as figurações e esmaltes tudo o que precisamos fazer é desenhá-las e pintá-las sobre o escudo. Este é o tema que qu'hom fait sur justifica.

 

Um k Indiscreto

O índice de discrição totaliza k = 0,14 e a média aritmética de todos os seis níveis é k = 0,08, um resultado extremamente baixo, talvez indicando que a maior parte, senão mesmo todas as soluções propostas, não poderão ser melhoradas no que se refere à parofonia. Note-se que esta metodologia não fornece provas específicas para quaisquer proposições parofónicas. Estabelecemos apenas que o conjunto de propostas para um mesmo brasão com os respectivos níveis semânticos poderá eventualmente considerar-se como coerente e portanto quase impossível de considerar como estatisticamente fortuito. Mas mesmo assim é impossível garantir que um ou dois destes níveis não estejam equivocados.

É decerto importante encontrar outras representações heráldicas que repitam o mesmo tipo de associações e comportamentos visuais para garantir uma justificação válida. Será contudo preferível utilizar evidências históricas triviais como documentos e artefactos. Isso nem sempre é fácil e virtualmente impossível para as armas de fantasia, como estas que acabámos de estudar agora.

 

Há Pares e Pares

Repare-se que tomámos os fonemas [Om] emparelhados com [Õ], o que poderá parecer estranho. Na realidade, [O] e [m] são dois fonemas distintos mas terão necessariamente de ser comparados com a nasalização [Õ], uma sonoridade elementar. Se obedecermos cegamente à metodologia, ao usar-se o emparelhamento formal [Õ][_] ~ [O][m], obteríamos penalizações excessivamente altas durante o cálculo de k. O efeito numérico no índice de discrição seria o mesmo que, digamos, [Õ][_] ~ [O][s], o que é inaceitável. O mesmo critério foi aplicado antes com [tS] e [S] para a parofonia Itchen ~ I chenne.

Terminamos assim esta análise, uma das mais difíceis que já fizemos, com o número recorde de seis níveis semânticos. Esta foi a mesma quantidade encontrada nas armas primitivas dos reis de Portugal, que consumiram a maior parte do nosso tempo e empenho. Serão verdadeiros? Não sabemos, mas lembrando que todos os seus índices de discrição são extremamente baixos e que os níveis semânticos interagem coerentemente, a resposta tenderá a ser afirmativa.

 

À Sorte ou Talvez não

Introduziremos algumas ideias relativas a uma justificação probabilística. Tome-se a parofonia Seint  ~ Cinq como exemplo e tentem-se encontrar trocadilhos com Cinq ou equivalentes como V, B, quinteto, quina, etc., a emparelhar com outras palavras em francês arcaico, relacionadas de algum modo consistente com Santo Eduardo. De modo a compatibilizar-se com a nossa análise o índice de discrição não poderá ultrapassar 0,2. Para simplificar usam-se apenas parofonias elementares incluindo apenas uma palavra. Asseguramos que não será possível achar tantas mas suponha-se por exagero que encontrámos dez parofonias viáveis. O próximo passo é dividir dez pelo número de palavras existentes no francês arcaico usadas por um falante ordinário; digamos cinco mil.

Portanto, também de uma forma simplificada, a probabilidade de que esta solução parofónica derive apenas da sorte é cerca de 10/5000 = 0,002 ou 0,2% (num hipotético espaço amostral equiprovável). Se estendermos este resultado a seis níveis semânticos distintos e independentes, a eventualidade de uma coincidência simultânea valeria 0.002 × 0.002 × 0.002 × 0.002 × 0.002 × 0.002 = 0,000000000000000064 = 0,0000000000000064 %. Naturalmente, se tomarmos parofonias compostas devemos levar em conta todas as combinações possíveis, duas a duas, três a três, etc. O resultado seria ainda mais pequeno devido à enorme dimensão do divisor. Como se entenderá, esta é uma abordagem abreviada construída com elementos pouco complexos e idealizados. Mas é fácil de entender e oferece uma visão racional das ordens de magnitude envolvidas.

 

 Edward the Confessor - All

Eduardo o Confessor - Armas de Fantasia (VI)

Classificação Descrição
Armas de Fantasia R Eduardo o Confessor
Antropónimo M Confessor
Língua de Conquista V Anglo-Normando
Denominante A Confessur
Grafemização A  C  |  O  |  N  |  F  |  E  |  S  |  S  |  U  |  R 
Fonemização denominante A k  |  Õ  |  f  |  E  |  s  |  y  |  R\
Emparelhamento A k  |  Õ  |  f  |  E  |  s  |  y  |  R\
A k  |  Om  |  f  |  E  |  s  |  y  |  R\
Coeficiente de transposição A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0
Coeficiente de carácter A 0,0 | 0,5 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0
Coeficiente de posição A 0,0 | 1,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0
Parcelas A 0,0 | 0,5 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0
Índice de discrição A k = 0,14
Fonemização designante A k | Om | f | E | s | y | R\
Grafemização A Q| U' | H | O | M | | F | A | I | T | | S | U | R
Designante A qu'hom fait sur
Abrangente E qu'hom fait sur
Monossemia simples S que se faz sobre (o escudo)
S qu'hom fait sur
Esmalte H De azul
Número H uma
Figuração H cruz
Aspecto H florenciada
Esmalte H em ouro
Localização H acantonada de
Número H quatro
Figuração H merletas
Conectivo H e
Número H mais outra
Localização H em ponta
Número H todas
Esmalte H do mesmo

(próxima análise neste blog aqui)

 


Publicado por 5x11 - Carlos da Fonte às 21:05
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Sexta-feira, 7 de Setembro de 2012

Eduardo o Confessor: Esmalte Azul

 Eduardo o Confessor - Armas de Fantasia

 

O Rio de Winchester

O quinto nível semântico presente nas armas de Santo Eduardo o Confessor repete a inspiração geográfica da metonímia do referente que o antecedeu: Wincestrin. Além da alusão directa a Winchester podemos agora observar a representação verbal do seu rio Itchen. Similarmente, numa análise anterior, tínhamos aplicado o rio Danúbio como contiguidade de Sagremor e Buda. Não foi possível encontrar o nome anglo-normando para este hidrónimo, usámos portanto o equivalente em Inglês como denominante. Na verdade, nem sequer sabemos se existiu qualquer palavra específica naquela língua mas, aparentemente, não seria muito diferente de Itchen.

Entretanto, a segunda parte da nossa parofonia, o designante, continua a usar o anglo-normando. A este género de combinação chamamos hibridização linguística. Para as parofonias resulta frequentemente do desconhecimento sobre a forma de expressarem-se ambos os componentes adoptando-se apenas uma língua, como neste caso. Também podem aparecer com termos locais que sobrevivam no vocabulário de uma lingua franca. Em português, por exemplo, surgem palavras góticas e árabes simultaneamente com o latim de modo a construirem designantes.

 

A Etapa de Acomodação

A parofonia actual constrói-se com Itchen ~ I chenne (ano. uma canada), o último componente carecendo de ser ajustado antes de poderem comparar-se os seus fonemas com os do denominante. Uma primeira metonímia diverge a partir do grafema comum “I”, de reconhecimento simples, além disso sustentado por outras ocorrências na nossa investigação. É responsável pela transformação da letra i no numeral romano que vale um.

I(chenne) < I (letra i) < I

I (chenne) < I (número 1) < I

Além disso, assinalamos o uso de um par de grafemas, ch”, com duas expressões possíveis, adoptadas convenientemente para auxiliar à parofonia. Em primeiro lugar quando Itchen deve ser comparado com a fonemização similar de chenne, em que ch soa como [S]. Em segundo lugar quando se constrói o significado e necessitamos da palavra que significa uma canada, ou seja, chenne, e ch soa agora como [k], como outras formas conhecidas - cane ou canne - muito próximas ou iguais à pronúncia actual em francês. Um exemplo semelhante vê-se nas armas dos primeiros reis de Portugal para a sua capital Coimbra. De modo a denotar que o mesmo grupo de letras configura sonoridades distintas baptizámos este fenómeno recorrente como heterofonia homográfica.

ch(enne) > [k(@n)]

ch(enne) < [S(@n)]

 

Uma Fórmula Especial

Concluídos a acomodação e o emparelhamento calculámos também o índice de discrição, k = 0,19. Este procedimento teve de recorrer a uma fórmula mais extensa, aplicada para compensar o escasso número de fonemas e consequente desequilíbrio (ver Fórmula 3.1 à p. 51 na dissertação). Desse modo levou-se em conta adicionalmente o número total de transformações (j = 1) divido pelo quadrado do valor máximo entre o denominante e designante, max (D, d)2 = max (4, 4)2 = (4)2 = 16. Subtraiu-se portanto 1/16 = 0,0625 da nossa fórmula principal para obter 0,250 - 0,0625 e o valor de k = 0,19.

 

A Canada Vazia

Uma segunda metonímia justificará o azul do enredo heráldico das armas de Santo Eduardo. Já tínhamos mencionado que a aplicação do referido esmalte não era compatível com um céu, pelo menos neste brasão. É certo que cruzes e pássaros ajustar-se-iam com perfeição a este pano de fundo mas relembramos que as merletas não voam no escudo de Santo Eduardo. Sabemos ainda que o azul representa a água na heráldica, contudo cinco merletas a flutuar em torno de uma cruz que se afunda parece ser uma conceptualização algo inadequada. Qual a alternativa?

O designante chenne (ano. canada) era também entendido como medida de capacidade para líquidos, sentido reforçado pelo numeral romano I que o precede. Uma medida largamente utilizada com água, vinho e eventualmente com sólidos a granel. A próxima transformação recorre ao que quer que seja que estivesse a ser medido como ideia determinante, em vez do contentor propriamente dito. De um modo parecido dizemos: Bebi um copo de leite em vez de Bebi o conteúdo de um copo de leite. Mas o conteúdo de que falamos é efectivamente água por algumas boas razões.

 

Uma Água muito Particular

A motivação mais óbvia para o azul é que este reproduz a cor da água heráldica, assim como o esmalte púrpura seria o mais natural para o vinho, o prata para o leite e assim por diante. Em segundo lugar, a quantidade relativamente pequena de uma canada seria apenas suficiente para molhar o campo, permitindo que os pássaros e a cruz fossem suportados pelo chão. A água, em terceiro lugar, embora representada através do azul, entende-se como transparente e se aplicada sobre o todo este permaneceria imaculadamente limpo. Em quarto lugar poderíamos dizer que este designante, à partida,  também representa um rio, e não é necessário acrescentar de se constitui. Finalmente, devemos responder à pergunta - Que espécie de líquido seria suficientemente respeitável para acompanhar as cinco aves que representam a santidade de Eduardo e o símbolo do próprio Cristo? Não deveria prejudicar, empanar ou, de qualquer outro, modo dessacralizar o enredo que já temos organizado.

A resposta não poderia ser outra senão a água benta, em perfeita associação com o bando de aves e com a cruz. Observe-se, incidentalmente que é de hábito aspergida, talvez a significar que se estenda sobre as figurações, se ainda considerarmos a mencionada transparência. Note-se que a expressão em anglo-normando é euwe benette, mas pode-se admitir facilmente para o fim do século XIV que o inglês pudesse afectar a metonímia. Repare-se que tal não seria mesmo estritamente necessário, devido à significativa ambientação religiosa do brasão. Sem dúvida o todo é influenciado pelo estatuto de Eduardo como santo. Formalmente, trata-se de mais uma metonimização convergente:

Eduardo > Santo Eduardo > santo (ing. holy)

uma canada > conteúdo > água benta (ing. holy water)

 

O Esmalte Azul

Necessitamos ademais de justificar a convenção azul para a água. A percepção desta cor nas extensões pouco profundas considera-se como causada pela reflexão e dispersão da luz do céu, o que não se adaptaria bem a uma generalização. Para mais o mar é intrinsecamente azul mesmo durante as tempestades, quando os céus mostram-se acinzentados. Este azul apresenta-se quase imperceptível na neve e no gelo, mas tudo resulta do mesmo fenómeno físico. Provavelmente foram estas as tonalidades de azul que inspiraram a heráldica e muitas outras representações da água. De qualquer modo, o oceano é a mais poderosa, extensa e majestosa manifestação aquática, e o mecanismo de sublimação surge também para tingir qualquer forma ou quantidade de água com a cor azul; uma metonímia convergente tripla:

mar > azulado

água do mar > azulada

qualquer água > azulada

Deveríamos terminar aqui os nossos comentários sobre as armas de Santo Eduardo o Confessor, mas encontramos há pouco um sexto nível semântico. Assim esta série não acabará hoje como referimos antes. Felizmente este nível não prejudica a sequência de apresentação dos cinco anteriores; trata-se mais de um complemento que considera tudo o que já dissemos.

 

 Eduardo o Confessor - Azul

Eduardo o Confessor - Armas de Fantasia (V)

Classificação Descrição
Armas de Fantasia R Eduardo o Confessor
Hidrónimo M Rio Itchen
Hibridização Linguística V Inglês ~ Anglo-Normando
Denominante A Itchen
Grafemização A  I  |  T  |  C  |  H  |  E  |  N 
Fonemização denominante A i  |  tS  |  @  |  n
Emparelhamento A i  |  tS  |  @  |  n
A i  |  S  |  @  |  n
Coeficiente de transposição A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 
Coeficiente de carácter A 0,0 | 0,5 | 0,0 | 0,0 
Coeficiente de posição A 0,0 | 1,0 | 0,0 | 0,0 
Parcelas A 0,0 | 0,5 | 0,0 | 0,0 
Índice de discrição A k = 0,19
Heterofonia homográfica A ch(enne) > [k(@n)]
A ch(enne) > [S(@n)]
Fonemização designante A i | S | @ | n
Grafemização A I | | C | H | E | N | N | E
Designante A I chenne
Outros substantivos E une chenne
Metonímia divergente S I(chenne) > I (letra i) > I
S I (chenne) < I (número 1) < I
Monossemia simples S azul
S I chenne
Metonímia convergente S Eduardo > Santo Eduardo > santo (holy)
S 1 canada > conteúdo > água benta (holy water)
Esmalte H azulada De azul
Imanência C água
Contraste C ouro
Metonímia convergente, Sublimação S mar > azulado
S água do mar > azulada
S qualquer água > azulada
Número H uma
Figuração H cruz
Aspecto H florenciada
Esmalte H em ouro
Localização H acantonada de
Número H quatro
Figuração H merletas
Conectivo H e
Número H mais outra
Localização H em ponta
Número H todas
Esmalte H do mesmo

(próximo artigo nesta série VI/VI)



Publicado por 5x11 - Carlos da Fonte às 16:09
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Terça-feira, 28 de Agosto de 2012

Eduardo o Confessor: Esmalte Ouro

Eduardo o Confessor - Armas de Fantasia

 

Falantes mas ...

Chegámos finalmente ao ponto em que se consideram os esmaltes. Qual é a certeza de que esta suposta parofonia aplicada às cores é suficientemente razoável para ser aceite? Por quê não se atribuem os esmaltes a uma propriedade natural das entidades que se vêem delineadas nos brasões? Infelizmente as coisas não são assim tão simples. Ninguém poderá assegurar que esta ou aquela imagem é falante, por exemplo. Mesmo representações “óbvias” como as usadas pelos Reis de Leão (De prata um leão de púrpura) viram contestado o seu estatuto falante. Alguns autores afirmam que este leão pode muito bem representar a força e o carácter do rei, em vez de um trocadilho que lembre o nome do seu reino: Llion llion (leo. leão). É matéria de interpretação pessoal, que coincidirá ou não com as intenções primitivas.

É perfeitamente admissível que as cores sejam falantes, mesmo sob um ponto de vista tradicional. Aparecem normalmente na forma de esmaltes plenos como em Rossi ~ Rossi (ita. vermelhos), onde o vermelho que ocupa todo o campo do escudo transforma esta evidência em inevitável explicação. A metodologia parofónica permite um domínio de interpretações mais completo, explicando mesmo pequenos pormenores cromáticos, de outra forma menosprezados. Por outro lado, o que parece ser um esmalte natural e desenxabido poderá esconder um significado surpreendente e inesperado, como o campo azul usado nas armas dos reis de França. Naturalmente, a maior parte das figurações heráldicas apresenta as suas cores naturais.

 

Leões Azuis e Águias Púrpura

O que torna  algo irrazoável a negação deste tipo de fenómeno é que as armas falantes são percebidas como uma manifestação heráldica geral e reconhecida. Portanto, se ocorre noutras ocasiões deveria também ocorrer neste caso particular. Pode dizer-se o mesmo acerca da parofonia, com a diferença de que aqui o universo alcançado é bem maior. Poderá influenciar cada um dos aspectos do brasonamento: figurações, separações, atitudes, esmaltes, etc.

Não resta praticamente nada para uma escolha arbitrária, cada traço heráldico parece propenso a uma intenção parofónica deliberada ou resultar de uma imanência dos outros elementos já representados. Mas se por acaso encontrarem-se leões azuis, águias púrpura ou céus verdes, acreditem, haverá aí mais do que uma simples arbitrariedade estética. O homem medieval não era tolo ou ingénuo, como alguns poderão comodamente pensar, talvez a justificar a insanidade e insensibilidade dos nossos tempos.

 

A Cruz Dourada

Devemos abandonar as nossas generalizações e voltar à cruz e aves de Santo Eduardo. Notámos anteriormente que o esmalte dourado poderia ser o mais apropriado para a nossa cruz. Madeira, ouro, latão ou bronze conviriam perfeitamente ao artefacto e poderiam de facto ser a motivação por detrás das cores. Mas antes já tínhamos proposto que os quatro lises nos braços da cruz  seriam os mesmos presentes na Coroa de Santo Eduardo. Não se poderia assumir que o resto do material da cruz fosse também em ouro, afinal um tipo de amarelo - caso encerrado - ou talvez não? Sim e não. Aceitamos que a cruz que aparece nas armas de Santo Eduardo seja feita em ouro. Não devemos, contudo, recusar outras contribuições parofónicas que abranjam esta propriedade da cruz heráldica desde que não haja conflito. Trata-se precisamente disso, o que explicitaremos mais abaixo.

 

Da Cor das Andorinhas

Depois destas considerações sobre a cruz volvemos a nossa atenção para os pássaros. As merletas heráldicas usadas em Inglaterra inspiraram-se nas andorinhas, uma ave gregária bem conhecida, com um bico pequeno e patas diminutas, de tal modo que quase não as vemos, seja na vida real seja nos desenhos simplificados da heráldica. Não existem contudo andorinhas amarelas e mesmo pássaros inteiramente dessa cor são difíceis de encontrar na Europa.

O facto de que as merletas representam pássaros em geral não ajuda muito pois aparecem em variados esmaltes. As armas de fantasia de Sussex que incluem seis merletas - três, dois e um - aparecem em documentos tardios e é difícil chegar-se a qualquer conclusão formal a partir daí. Parecem inspirarem-se nas armas estudadas neste artigo e mencionamos a parofonia Sussex ~ Suos (lat. seus) sex (lat. seis), que poderia referir alguém em particular. Talvez o autor não conhecesse ou ignorasse a parofonia - Seint ~ Cinc - aplicada a Eduardo e por conveniência admitisse seis elementos no bando de aves, usando o Latim como instrumento arcaizante. Se aceitarmos esta inspiração, as armas poderão datar-se como posteriores ao século XIV. Os restantes aspectos desta representação devem deixar-se para uma pesquisa posterior.

Na generalidade poderíamos admitir que quaisquer andorinhas castanhas pudessem ser transformadas em ouro, uma suposição pertinente, ou que o brilho da cruz em ouro se reflectisse nas merletas. Também poderia ser entendido por alguns como derivado de um nimbo cruciforme formado pelo aro da moeda e pela cruz, o todo a espalhar algo da claridade para as pombas; mas não existem cores nas moedas e Eduardo não era ainda reconhecido como santo.

 

O Rei em Winchester

Deixem-nos ainda fazer mais uma observação sobre a metodologia parofónica. A vasta maioria das metonímias do referente são de carácter geográfico e ainda não aplicámos nenhuma. Por quê será? Provavelmente porque estas armas baseavam-se numa representação numismática e que estas demandassem uma inspiração distinta. Lembramos que as três metonímias já encontradas baseavam-se na antroponímia - Edouard Et due harde - e na condição de Eduardo - Seint Cinc e C(e)roi Crois. Isso é decididamente surpreendente se formos compará-las com as representações típicas e ainda mais seria se não existissem parofonias suplementares e consequentemente quaisquer metonímias geográficas.

A capital de Eduardo o Confessor era Winchester e apenas mais tarde com a conquista normanda iria transferir-se para Londres. Já vimos nas armas de Sagremor - Aquincenses Ac quini sentes - que estes demónimos podem ter um papel importante para traduzir o referente em imagens. Esse também é o caso para o Rei Eduardo, não na forma plural usada para o cavaleiro húngaro imaginário mas apenas como mais uma circunstância da sua vida: alguém que viveu em Winchester. Note-se que Eduardo não nasceu ali; a parofonia está ligada à cidade como capital do Reino, não ao local de nascimento do Rei.

A parofonia constrói-se usando j' Wincestrin (ano. eu Winchestrense) ~ juints cestrins (ano. juntos amarelo-limão). Não foi possível encontrar a palavra anglo-normanda específica Wincestrin ou, já agora, qualquer outra, para os habitantes de Winchester. É possível, porém, achar Wincestre para o nome da cidade e compará-la então com outros gentílicos conhecidos, como Parisin, inferindo-se as conclusões necessárias. “Juntos” refere-se a qualquer coisa que possa ser enumerada dentro do escudo, excluindo-se obviamente o campo por incontável e ademais necessário ao contraste.

 

Um Tom Francês

Repare-se ainda que Je (ano. Eu) transforma-se em J' perante sons vocálicos mas mesmo ao preceder consoantes na prática oral e além disso que os plurais terminados em “s” são mudos. A pronúncia da primeira sílaba de Wincestrin poderia muito bem ser [win] em vez de [wẼ], de acordo com a natureza local da palavra. O índice de discrição seria alterado ligeiramente de k = 0,0 para k = 0,30, nada de alarmante, mas preferimos acompanhar o óbvio desígnio de uniformização sonora, exagerando talvez o entusiasmo referente aos aspectos francófonos do anglo-normando.

 

Metonímias

Tanto o denominante como o designante vêem o seu significado restringido pela metonimização. O primeiro através de duas metonímias convergentes:

Eu > brasão > armigerado > Eduardo

Winchestrense > vive em Winchester > o rei > Eduardo

O segundo como duas metonímias simples distintas:

juntos > todos > figurações > cruz e merletas

amarelo-limão > amarelado > ouro

 

Santas Aves

Poderíamos ter classificado a última metonímia como uma sublimação, em que o tom dourado reflectisse a escolha mais lisonjeira dentre todos os amarelos possíveis. Mas veja-se que já temos um pretexto cromático baseado nas flores-de-lis e que além disso um qualquer amarelo que aparecesse seria inevitavelmente descrito como ouro. Daí que a cor da cruz e das merletas deva ser entendida não como amarelo-limão mas como ouro, transformado e descrito pelas práticas do brasonamento. Isso não acontecerá sempre, algumas figurações necessitam de manter a sua identidade amarela de modo a garantir a consistência. As metonimizações cromáticas não ocorrem então, contradizendo a sua descrição no brasonamento, uma linguagem convencionalizada.

Necessitamos ainda de justificar o porquê das aves amarelas no enredo dos traços heráldicos das armas. Parece insuficiente afirmar que as cores provêem da parofonia amarelo-limão. É esta coerência que mantém o todo visual unido e ajuda a afirmar que seria muito difícil que proviesse de qualquer outro motivo que não fosse a intenção. Cestrin está frequentemente associado com a descrição de pedras preciosas. Tudo o que poderíamos imaginar naquele período seriam algumas pedras engastadas na cruz, o que não é o caso. Adicionalmente, não havia capacidade técnica para lapidar as gemas na forma da cruz ou das merletas por inteiro.

Deveremos buscar outra explicação. Voltemos atrás até à identificação das cinco merletas com a santidade do Rei Eduardo através do seu número, Seint ~ Cinc e respectiva condição de bando, Edouard ~ Et due harde. É legítimo pensar que a cor pudesse estar associada com essa condição. Não deveriam reflectir, portanto, o brilho da cruz em ouro, como suposto anteriormente, mas um resplendor interno de santidade.

 

O Resplendor Interno

Este resplendor é representado convencionalmente por um halo ao redor da cabeça dos santos quando se desenham figuras humanas. No que se refere a pássaros, a pomba do Espírito Santo surge de hábito como inteiramente branca com um resplendor amarelado à sua volta que emerge do interior. Seremos informados no quinto nível semântico de que o esmalte azul é “bento” assim não haveria qualquer vantagem semântica em diluir o campo com um halo. Pareceria de qualquer maneira uma técnica bizarra para um brasonamento deste período. O que aconteceu é que o autor do brasão simplificou o halo resplandecente através do esmalte das merletas, transformado a partir do seu brilho interior amarelado. De um modo similar, uma estrela é encoberta por uma nuvem branca e altera o seu esmalte de ouro para negro nas armas de Sagremor. Uma técnica realista teria colorido toda a nuvem de branco, mas deste modo não explicitaria o astro ainda escondido, ignorando a sua presença. Tudo o que precisamos para o enredo heráldico é uma construção credível, que possa “justificar” os aspectos determinativos da parofonia a montante, mesmo se insólitos, uma vez que derivam do acaso.

 

 Eduardo o Confessor - Cruz e cinco Merletas em ouro

Eduardo o Confessor - Armas de Fantasia (IV)

Classificação Descrição
Armas de Fantasia R Eduardo o Confessor
Demónimo M Winchestrense
Língua de Conquista V Anglo-Normando
Denominante A J' Wincestrin
Metonímia convergente S Eu > brasão > armigerado > Eduardo
S Winchestrense > vive em Winchester > rei > Eduardo
Grafemização A  J'  |    |  W  |  I  |  N  |  C  |  E  |  S  |  T  |  R  |  I  |  N 
Fonemização denominante A Z  |  w  |  Ẽ  |  s  |  E  |  s  |  t |  R\  |  Ẽ
Emparelhamento A Z  |  w  |  Ẽ  |  s  |  E  |  s  |  t |  R\  |  Ẽ
A Z  |  w  |  Ẽ  |  s  |  E  |  s  |  t |  R\  |  Ẽ
Coeficiente de transposição A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 
Coeficiente de carácter A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 
Coeficiente de posição A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 
Parcelas A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 
Índice de discrição A k = 0,0
Fonemização designante A Z | w | Ẽ | s | E | s | t | R\ | Ẽ
Grafemização A J | U | I | N | T | S | | C | E | S | T | R | I | N | S
Designante A juints cestrins
Coloração E amarelo-limão
Monossemia simples S ouro
S amarelo-limão
Esmalte H De azul
Número H uma
Figuração H cruz
Aspecto H florenciada
Esmalte H amarelo-limão em ouro
Localização H acantonada de
Número H quatro
Figuração H merletas
Conectivo H e
Número H mais outra
Localização H em ponta
Número H todas
Metonímia simples S juntos > todos > figurações > cruz e merletas
Metonímia simples, Redundância S amarelo-limão > amarelado > ouro
Esmalte H amarelo-limão do mesmo
Imanência, Redundância C ouro (flores-de-lis)
Contraste C azul

(próximo artigo nesta série V/VI)



Publicado por 5x11 - Carlos da Fonte às 21:55
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Quarta-feira, 15 de Agosto de 2012

Eduardo o Confessor: Cinco Merletas

Eduardo o Confessor - Armas de Fantasia

 

Santo Eduardo

Este artigo é breve e simples. O terceiro nível semântico trata da mudança de quatro pombas, nas moedas de Eduardo o Confessor, para cinco merletas nas suas armas de fantasia. Pela segunda vez nestas nossas análises, tal como no primeiro nível semântico, C(e) roi ~ Crois, o referente metonimiza Eduardo com a sua condição; de início como rei, agora também como santo. Talvez estes exemplos ilustrem um método suplementar para construir a metonímia do referente mas o facto é que apenas foi possível identificar algumas poucas ocorrências. A esmagadora maioria utiliza metonimizações geográficas.

Esta é a primeira ocasião nesta análise em que o nosso instrumento de verbalização é (ligeiramente) alterado de uma língua de influência, o francês arcaico, para a língua de conquista então ainda usada em Inglaterra, o anglo-normando, a despeito de quase três séculos de coexistência desde que Guilherme o Conquistador atravessou o Canal da Mancha. Resulta que a parofonia obtém-se através de Seint (ano. santo) ~ Cinc (ano. cinco); o índice de discrição correspondente é k = 0. Não nos deixemos enganar pela escrita, os sons são efectivamente iguais, [sẼ] ~ [sẼ]. Observe-se que cinc, quando isolado, pronuncia-se [sẼk], sendo alterado para [sẼ] diante de merlés (ano. merletas) ou de quaisquer outros substantivos no plural que comecem com um fonema consonantal, isto no francês contemporâneo.

 

Moedas e Escudos

Estamos em condições de compreender agora que, uma vez que as moedas foram cunhadas durante a vida do rei, não havia ainda qualquer razão para descrever a sua condição como santo. As pombas, entretanto, representavam a parofonia Edouard ~ Et due harde, visualizada nos seus soberanos de prata. A quantidade era ali apenas uma adaptação da ideia de bando de aves às “reentrâncias” disponíveis em torno da cruz.

Mas agora deparamo-nos com uma especificação muito objectiva: devemos ver cinco pássaros no brasão. O arranjo ideado para este fim usou o espaço adicional na base do escudo, indisponível na moeda, de modo a acomodar a quinta merleta. Nada mais temos a acrescentar. A ideia de “cinco” acompanha-nos desde a ocorrência como designante até a sua concretização em cinco aves. Não há qualquer hipótese de má interpretação neste percurso.

 

 Eduardo o Confessor - Cinco merletas

Eduardo o Confessor - Armas de Fantasia (III)

Classificação Descrição
Armas de Fantasia R Eduardo o Confessor
Condição M Santo
Língua de Conquista V Anglo-Normando
Denominante A Seint
Grafemização A  S |  E  |  I  |  N  |  T 
Fonemização denominante A s  |  Ẽ 
Emparelhamento A s  |  Ẽ 
A s  |  Ẽ 
Coeficiente de transposição A 0,0 | 0,0 
Coeficiente de carácter A 0,0 | 0,0 
Coeficiente de posição A 0,0 | 0,0 
Parcelas A 0,0 | 0,0 
Índice de discrição A k = 0,0
Fonemização designante A s | Ẽ
Grafemização A C | I | N | C
Designante A cinc
Quantidade E cinco
Monossemia simples S cinco
S cinco
Esmalte H De azul
Número H uma
Figuração H cruz
Aspecto H florenciada
Esmalte H em ouro
Localização H acantonada de
Número H 4 quatro
Figuração H merletas
Conectivo H quatro + mais outra e
Número H 1 mais outra
Localização H em ponta
Número H todas
Esmalte H do mesmo

(próximo artigo nesta série IV/VI)



Publicado por 5x11 - Carlos da Fonte às 16:34
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Quarta-feira, 8 de Agosto de 2012

Eduardo o Confessor: Merletas

Eduardo o Confessor - Armas de Fantasia

 

As Merletas de Santo Eduardo o Confessor

Esta segunda parte da nossa análise procurará justificar a existência dos pássaros no escudo de Santo Eduardo o Confessor. Como aconteceu no caso da cruz, o desenho foi influenciado pela representação numismática precedente, que incluía apenas quatro aves assemelhadas a pombas - deveria existir alguma razão para o incremento de mais um pássaro no brasão.

Apesar do arranjo heráldico deixar implícito um espaço subjacente à cruz capaz de explicar o arranjo com cinco figurações, esta condição poderia ser facilmente corrigida pela extensão do braço inferior, deixando incólume a quantidade inicial. Segundo a análise feita em Eduardo o Confessor: C(e) roi ~ Crois, exigia-se apenas uma cruz, fosse ela grega, adequada à simetria circular, ou latina, ajustada à forma do escudo. Algo aconteceu, entretanto, que obrigou ao acrescentamento. A motivação, contudo, só poderá compreender-se integralmente com o artigo que se seguirá a este.

 

Um Bando de Pássaros

Eduardo, o nosso referente, quase por obrigação seria metonimizado através do próprio nome. Todos os exemplos que observámos nas moedas medievais usavam este recurso como ferramenta parofónica, que conjecturamos ser uma fonte insuspeita de inspiração  para o desenvolvimento da linguagem heráldica paralelamente aos selos. Ao herdar o traço semântico, o escudo herdou também a correspondente língua de verbalização, o francês arcaico, em particular o falado na Normandia. Vemos portanto o Rei Santo ser expresso pela parofonia Edouard (fra. Eduardo) ~ Et due harde (fra. e respectivo bando). O denominante, na primeira parte, não apresenta qualquer problema mas o designante, na segunda, merece alguns comentários.

Lembramos que já dispomos de uma parofonia, por isso não seria de todo irrazoável juntar esta com aquela numa sequência frásica: Crois et due harde, ou mesmo entrecruzando-se o denominante com o designante: Ce roi et due harde. A função de et (fra. e) é meramente aditiva, conectando as duas parofonias e a justificar assim a existência. A palavra due, (fra. respectiva) apesar de não conservar o sentido no francês moderno, senão muito especificamente, podia interpretar-se no passado como: “devido”, “correspondente” ou “respectivo”. Deste modo, faz a ligação entre a cruz ou o rei e harde (fra. bando). Este último termo também já perdeu algo da significação antiga, contudo interessamo-nos apenas pela época medieval e aí, sem quaisquer dúvidas e com inúmeros exemplos, possui o sentido de um bando de aves. 

Concluindo, a frase “cruz e respectivo bando de aves” parece perfeitamente coerente com as imagens que podem ser vistas na moeda de Eduardo o Confessor. Não quer isso dizer que não tenhamos de investigar, entre outras coisas, a coerência no sentido inverso, nem que não pudessem existir soluções alternativas ou até melhores o que, francamente, duvidamos. Referimos que desenvolvimentos como ait un harde ou et du harde não são possíveis porque harde é do género feminino.

 

O Tamanho Relativo

A convergência semântica de um bando genérico de animais para um bando de aves em particular é realizada por uma primeira metonimização que reflecte a escolha do criador da moeda. Efectivamente poderia ter sido escolhido um bando de cervos mas a razão da preferência dever-se-á ao tamanho relativo dos animais e da cruz no desenho. Um bando de quadrúpedes, mesmo dos mais pequenos, exigiria uma enorme cruz, excluindo qualquer artefacto habitual, enquanto que um bando de pássaros configuraria uma cruz de dimensões mais aceitáveis, como as das cruzes processionais. Uma segunda metonimização transforma as aves em merletas por exigência do designante “bando” que não especifica nenhuma espécie em particular e recorrente na heráldica:

bando de animais > bando de aves

aves > merletas

 

Pombas e Merletas

Qual seria a razão para que as aves em referência fossem de início pombas, ou algo semelhante a elas, transformando-se posteriormente em merletas? A resposta é dada pela distância temporal entre as representações. Enquanto que na moeda procurou-se tomar indiferentemente uma ave comum e de índole gregária, no brasão obedeceram-se às regras heráldicas já em vigor, ao adoptar-se uma figuração que representasse os pássaros de um modo geral: a merleta.

Assistimos assim à segunda modificação do desenho original após a introdução do florenciado nas hastes da cruz. Estas lembravam a condição de rei, seria possível atribuir um significado específico às merletas? Não é a nossa opinião, pensamos dever-se apenas à necessidade de coerência na linguagem armorial. Também não é possível atribuir às pombas qualquer vinculação com a santidade do rei, posterior à cunhagem das moedas ou com a sua realeza, de resto já evidenciada naquele outro aspecto da figuração. Ademais, como a pomba simboliza o Espírito Santo, é bem possível que a simples presença da cruz fosse suficiente para lembrar o recurso àquela ave, mas a presença dos quatro exemplares invalida que as tomemos com a referida especificidade semântica. 

 

O Esmalte Azul

Um ponto a merecer a nossa atenção é a atitude das aves. Apesar de não termos ainda alcançado a etapa da análise cromática, sabemos que o fundo sobre o qual repousam os pássaros é de cor azul. O mais cómodo seria assumir que um céu servisse de pano de fundo tanto às merletas como à cruz. Há um pormenor, contudo, que vem prejudicar este raciocínio: as aves estão com as asas recolhidas na moeda e no escudo, indicando que não poderiam estar a voar numa interpretação estrita.

Outra possibilidade seria atribuir o azul à água, na qual vogassem os cinco passarinhos. Mas é evidente que não se tratam de aves aquáticas e que a cruz, apesar de a podermos considerar em madeira permitindo assim que flutuasse, já possui os elementos metálicos da Coroa de Santo Eduardo, presumindo-se o restante no mesmo material. Seria de esperar que a cruz fosse em ouro e que a condição do nosso referente como santo exigisse um enredo imagético mais exaltante no acompanhamento figurativo. Mais uma vez devemos adiar a resposta às nossas indagações, agora no que diz respeito à análise do esmalte azul, que possui um nível semântico próprio, condicionado por uma metonímia do referente particular.

 

Arranjos Sintácticos

Os arranjos sintácticos são condicionados pela presença da cruz, que permite os espaços necessários à introdução das quatro aves. Não é fácil dizer qual das duas parofonias numismáticas terá sido imaginada em primeiro lugar. Eduardo, através das merletas, vem mais a propósito enquanto expressão linguística determinativa, já a cruz, gerada pela função real, ajusta-se melhor aos usos habitualmente reproduzidos nas moedas. De qualquer maneira, a junção das duas ideias só poderia ser feita consistentemente na forma como está apresentada. A introdução de uma merleta suplementar, como já vimos, implicou que se conservasse a cruz grega, aninhando-se a quinta figuração no espaço entre a ponta do escudo e a extremidade inferior da cruz florenciada. A cruz define um contorno quadrado virtual, a ajustar-se muito bem aos flancos e ao bordo superior do escudo, restando em consequência a ponta como região possível para instalar a dita merleta.

 

Quatro ou Cinco

Se bem que exista de facto a mencionada associação do número de merletas à cruz, é bem evidente que ela está condicionada a montante. Não por a cruz ter quatro reentrâncias, mas pela especificação proporcionada por “bando”. Se hipoteticamente a parofonia descrevesse um duo ou um trio, seria necessário fazer os ajustamentos que lhe correspondessem. Porém, ao enunciar-se um bando, não poderemos imaginar apenas duas ou mesmo três aves. Talvez quatro seja o número mínimo aceitável, se nos lembrarmos de “quadrilha”, ideia afim, que encerra esta quantidade na etimologia.

Constitui-se assim o que poderíamos chamar de uma terceira metonimização, simples como as demais - bando > quatro (cinco) aves - que auxilia à passagem de um conceito numérico nebuloso para uma especificação precisa, se bem que em duas versões distintas de quatro e cinco exemplares, pela influência adicional de níveis semânticos distintos.

 

A Articulação do Espaço

As centralidades são mais difíceis de definir. O desenho das merletas é inteiramente assimétrico e não permite que os espaços sobrantes sejam homogéneos, mesmo com a eventual correcta localização dos seus centros geométricos. Acresce à dificuldade que todos os pássaros estão orientados para a dextra do escudo, prejudicando as simetrias axiais relativamente à cruz e ao escudo, apesar de obedecerem estritamente às normativas implícitas que lhes são exigidas pelo brasonamento. Deveremos procurar um equilíbrio entre as silhuetas de todas as figurações entre si e os espaços intermédios que lhes correspondam, o que poderá variar de intérprete para intérprete, nós incluídos. De resto é algo que pouco ou nada dirá de valia para o aspecto semântico que nos interessa prioritariamente.

 

 Eduardo o Confessor - Bando de aves 

Eduardo o Confessor - Armas de Fantasia (II)

Classificação Descrição
Armas de Fantasia R Eduardo o Confessor
Antropónimo M Eduardo
Língua de Influência V Francês
Denominante A Edouard
Grafemização A  E |  D  |  O  |  U  |  A  |  R  |  D 
Fonemização denominante A e  |  d  |  u  |  a  |  R  |  d 
Emparelhamento A e  |  d  |  u  |  a  |  R  |  d 
A e  |  d  |  y  |  a  |  R  |  d 
Coeficiente de transposição A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0
Coeficiente de carácter A 0,0 | 0,0 | 0,5 | 0,0 | 0,0 | 0,0 
Coeficiente de posição A 0,0 | 0,0 | 1,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 
Parcelas A 0,0 | 0,0 | 0,5 | 0,0 | 0,0 | 0,0 
Índice de discrição A k = 0,17
Fonemização designante A e | d | y | a | R | d
Grafemização A E | T | | D | U | E | | H | A | R | D | E
Designante A et due harde
Zoologia E e respectivo bando
Monossemia simples S bando
S merletas
Esmalte H De azul
Número H uma
Figuração H cruz
Aspecto H florenciada
Esmalte H em ouro
Localização H em cada cantão da cruz acantonada de
Número H 4 quatro
Metonímia simples S bando de animais > bando de aves
Metonímia simples S aves > merletas
Figuração H bando merletas
Orientação C volvidas para a dextra
Disposição C 2, 2
Centralidade C equilíbrio das silhuetas
Conectivo H merletas + merleta e
Metonímia simples S bando > 5 (4) aves
Número H 1 mais outra
Localização H debaixo da haste vertical da cruz em ponta
Orientação C volvida para a dextra
Simetria C equidistante das merletas laterais
Centralidade C entre a ponta e o pé da cruz
Número H todas
Esmalte H do mesmo

(próximo artigo nesta série III/VI)



Publicado por 5x11 - Carlos da Fonte às 23:30
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Quinta-feira, 19 de Julho de 2012

Eduardo o Confessor: Cruz

Eduardo o Confessor - Armas de Fantasia

 

Armas de Santo Eduardo o Confessor

Sem dúvida, este será um dos mais respeitados e difundidos exemplares dentre as armas de fantasia, seja pela figura mítica do patrono de Inglaterra que precedeu a São Jorge, seja pelo uso em armas verdadeiras, seja pela sobrevivência de artefactos que aludem ao seu nome como o trono, o ceptro e a coroa real dos monarcas ingleses, seja pela própria consideração que os assuntos heráldicos tiveram e continuam a ter nas Ilhas Britânicas. Sinal desta importância é o aparente cuidado posto na concepção das armas que lhe são atribuídas. Totaliza seis níveis semânticos, coisa rara na parofonia heráldica, cada um com a sua metonimização para o mesmo referente: Eduardo o Confessor. Aparecem pelo fim do século XIV integrando as armas de Ricardo II, possivelmente inspiradas numa moeda cunhada ao tempo do Rei Santo[1].

 

A Moeda e a Cruz

Pela primeira vez surge-nos a própria condição do armigerado - rei - como metonímia do referente. A causa deverá ser, por um lado, a importância das responsabilidades assumidas por Eduardo, por outro a provável intencionalidade de cópia, adaptada da numária deste soberano. Não é possível garantir absolutamente que a peça já fosse ela própria falante, como temos observado em outros exemplares pré-heráldicos da numismática ou da sigilografia[2].

Tudo indica que sim: a estreiteza das hastes que é repetida nas armas, o acrescento dos florões, específico à linguagem heráldica, a diversidade das figurações ornitológicas e o facto de serem apenas quatro inicialmente. Estas complementaridades ficarão mais claras nos artigos subsequentes. Aceitando-se a suposição devemos inferir o uso do francês arcaico na parofonia das moedas, o que não será demasiado difícil sabendo-se que Eduardo viveu muito tempo na Normandia, tendo levado naturais dali para Inglaterra; a sua própria mãe era normanda[3].

De facto, não se utilizou como antes o latim na verbalização deste plano semântico mas o francês ou alternativamente o anglo-normando, caso a cópia das moedas não possa ser aceite, ao contrário do que acreditamos, em qualquer das hipóteses a diferença será insignificante. Decorre da nossa proposta que a verbalização fez-se numa língua de influência, ainda não falada na corte, como aconteceu mais tarde: Ce roi (fra. este rei) ~ Crois (fra. cruz)[4].

 

A Cruz do Rei

Ambos os termos em confronto, Ce roi e Crois, produzem uma homofonia absoluta após providencial intervenção metonímica, ocasionando um índice de discrição nulo. A alteração do fonema /s/ em /k/ processa-se segundo a metonimização divergente:

ce (roi) > ce (este) > [se]

c(roi) < c (letra cê) < [se].

A metonímia é divergente porque, a partir de um mesmo elemento - a fonemização em [se] da palavra ce e da letra cê - fornecem-se duas interpretações distintas. Ambas estão no denominante, com /s/ a montante e /k/ a jusante, produzindo artificialmente a palavra croi, desprovida de sentido, útil apenas no emparelhamento fonético com crois. Note-se que a metonimização dos fonemas ocorre na etapa de sematização por tratar-se de uma mudança semântica e não na fase de acomodação, fundamentalmente fonética.

Ce (fra. este) cumpre uma função importante na construção da parofonia mas apenas estabelece uma monossemia elementar. Refere redundantemente que este rei é o rei de que se fala e que será representado nas armas parofonizadas. A sematização da cruz é ainda mais simples porque não há que usar qualquer artifício, a cruz do designante produz a cruz do traço heráldico, ponto final.

É perfeitamente cabível uma cruz feita de ouro, bronze, madeira ou qualquer matéria que lhe dê a cor amarelada. De facto a atribuição dos esmaltes, especialmente nas armas de fantasia, sintoniza-se amiúde com um material aceitável na figuração, com a descrição habitual “de sua cor” nem sempre usada. Entretanto, neste caso particular as cromatizações resultam de dois planos semânticos específicos e distintos, um para o azul do campo e outro para o ouro dos móveis, como veremos mais tarde. Razão de apresentamos apenas o contorno da cruz na imagem ilustrativa.

Os complementos redundantes são os de costume excepto no que toca à orientação da cruz. Exaustivamente conformada pela nossa cultura é bem evidente que uma cruz de sentido genérico só poderá estar com os braços paralelos ao horizonte visual. Não é assim na cruz de Santo André mas torna-se necessário especificá-la pelo nome. Trata-se, portanto, de uma imanência cultural da cruz, embebida no seu traço heráldico de orientação e na própria palavra.

 

Os Florões e a Definição de Aspecto

Seria ainda necessário justificar a presença dos lises nas extremidades da cruz. Há uma enorme variedade de cruzes na heráldica, diferenciáveis pelas espessuras, formas, número e extensão dos braços mas, sobretudo, pelo arremate das extremidades. Será possível que cada formato possa estar ligado a uma justificação semântica através do referente?

Não podemos responder à pergunta, apenas nos ocuparemos deste exemplo por agora; o conjunto das propostas que formos apresentando no futuro encarregar-se-á de delimitar as atribuições respectivas. Os argumentos nem sempre radicarão num desígnio semântico absoluto, poderão tratar-se de complementações que, fugindo ao enfeite inconsequente liguem-se, ainda que de modo débil, ao enredo heráldico.

Deveremos introduzir aqui a definição de aspecto, conceito sempre ligado às figurações, especialmente as geométricas. É muito semelhante à noção clássica de atitude que descreve a postura dos animais. O aspecto é a parte de uma figuração que se diferencia caracteristicamente de outras figurações semelhantes por meio de um detalhe formal. Não sendo uma figuração independente em si mesma, o aspecto ajuda a identificar vários tipos ou modelizações de um mesmo desenho. O endentado e o ondado das faixas, os palhetões e as argolas das chaves, as pétalas e os espinhos das flores, as orelhas e as nervuras das vieiras exemplificarão suficientemente.

 

A Jóia da Coroa

Voltando à necessidade da nossa justificativa, apesar de roi designar textualmente o rei, a associação deste conceito através da expressão visual de uma cruz grega simples não é de nenhum modo aparente. De mais a mais, na maior parte das parofonizações reais que estudámos verificou-se esse modo de analogia heterogénea entre a linguagem e a imagem. A maneira mais fácil de designar um rei apenas por um objecto é o uso de uma coroa, mais raro será ver o traço de aspecto numa cruz diferenciado por uma ou mais coroas.

Singularmente, para o rei de que nos ocupamos é possível encontrar uma peça histórica de relevo: a Coroa de Santo Eduardo[5]. O artefacto actual é uma jóia da Coroa Britânica, cópia de outra que existiu antes, esta talvez usada pelo referente. Se assim aconteceu de facto, não é demasiado importante, mas sim que o autor das armas pudesse estar convencido da sua autenticidade ou representatividade. Como a Coroa de Santo Eduardo apresenta quatro florões na sua circunferência, cada um deles deve ter sido incorporado às hastes da cruz heráldica obedecendo à metonimização:

rei > coroa > Coroa de Santo Eduardo > quatro florões

rei > Eduardo > Coroa de Santo Eduardo > quatro florões.

A metonímia é convergente, ou seja, sendo composta, ambas as linhas de contiguidade semântica vão ter ao mesmo conceito. Isso também acontece no estudo Salernum ~ Sal eremum relativamente ao sol.

Por outro lado, os florões são elementos habituais e característicos das coroas e mesmo que não existisse o artefacto seria possível fazer a associação; decerto com menor brilho expressivo. A figuração que estudamos é igualmente apresentada sob a forma de cruz patonce, com as hastes concavadas a crescer para o exterior, os lises mais curtos e as pétalas externas em concordância com o perímetro. Não vemos razão para alterar o nosso raciocínio mas comentamos que nesta circunstância poderíamos considerar cada inflorescência como uma coroa muito simplificada, para além dos mais óbvios florões.

[1] HERALDIC TIMES - The Arms of Edward the Confessor - s.d. : Acedido a 18 de Julho de 2012, http://heraldictimes.org/2010/12/10/the-arms-of-edward-the-confessor (inacessível).

[2] MICHELSEN, Mike - The Coat of Arms of Edward the Confessor - Mikes passing Thoughts Blog - 2010 : Acedido a 18 de Julho de 2012, disponível aqui.

[3] LUARD, Henry H. (ed.) - Lives of Edward the Confessor. La Estoire de Seint Aedward le Rei. Vita Beati Edvardi Regis et Confessoris. Vita Aeduuardi Regis qui apud Westmonasterium requiescit - Londres: Longman, 1858 : Acedido a 18 de Julho de 2012, disponível aqui.

[4] GODEFROY, Frédéric - Dictionnaire de l'Ancienne Langue Française et de tous ses Dialectes du IXème au XVème Siècle - Paris, 1880-1895 : Acedido a 18 de Julho de 2012, disponível aqui.

[5] SIDDONS, Michael - Regalia et Cérémonies du Royaume-Uni - Bulletin du Centre de Recherche du Château de Versailles, nº 2 - 2005 : Acedido a 18 de Julho de 2012, disponível aqui.

 

Eduardo o Confessor - Cruz

Eduardo o Confessor - Armas de Fantasia (I)

Classificação Descrição
Armas de Fantasia R Eduardo o Confessor
Condição M Rei
Língua de Influência V Francês
Denominante A ce roi
Redundância S ce
S este aqui representado
Monossemia simples S este rei
S este rei aqui representado
Metonímia divergente S ce (roi) > ce (este) > [se]
S c(roi) < c (letra cê) < [se]
Grafemização A  C  |  R  |  O  |  I 
Fonemização denominante A k  |  R  |  w  |  a 
Emparelhamento A k  |  R  |  w  |  a 
A k  |  R  |  w  |  a 
Coeficiente de transposição A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 
Coeficiente de carácter A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 
Coeficiente de posição A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 
Parcelas A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 
Índice de discrição A k = 0,0
Fonemização designante A k | R | w | a
Grafemização A C | R | O | I | S
Designante A crois
Artefacto E cruz
Monossemia simples S cruz
S cruz
Esmalte H De azul
Número H 1 uma
Figuração H cruz cruz
Simetria C radial
Orientação C imanência
Centralidade C abismo
Metonímia convergente S rei > coroa > Coroa de S. Eduardo > 4 florões
S rei > Eduardo > Coroa de S. Eduardo > 4 florões
Aspecto H rei florenciada
Localização C arrematam cada haste da cruz
Orientação C o pé para o interior
Simetria C = cruz
Esmalte H em ouro
Localização H acantonada de
Número H quatro
Figuração H merletas
Conectivo H e
Número H mais outra
Localização H em ponta
Número H todas
Esmalte H do mesmo

(próximo artigo nesta série II/VI)

 


Publicado por 5x11 - Carlos da Fonte às 00:04
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Quinta-feira, 12 de Julho de 2012

Sagremor: Esmalte Vermelho

Sagremor - Armas de Fantasia

 

Terminamos o estudo pelo primeiro nível semântico por expor-se melhor nesta ordem a organização das armas de Sagremor. Isso não quer dizer que o autor do brasão tenha adoptado uma qualquer sequência predeterminada; pelo contrário, deve ter ensaiado várias possibilidades antes de dar o trabalho por findo. A parofonia é descrita por Ungaria (lat. Hungria) ~ Ungo (lat. unto) area (lat. área), talvez a mais evidente de todas, dado o cognome aposto a Sagremor: o Húngaro. Os seus resultados visuais, muito singelos, diríamos quase exigirem outros componentes que viessem a preencher a excessiva simplicidade de um escudo pleno em vermelho. Convém acrescentar que como nos antecedentes, mantém-se a razoabilidade de um índice de discrição baixo: k = 0,25 e que ao estimar este indicador recorremos à ditongação de oa em ungo area, a emparelhar com Ungaria para alterar-se em Ungoarea.

O tema da parofonia parece afastar-se dos hábitos adquiridos em Aquincenses ~ Ac quini sentes e em Danubius ~ Da nubis ao compor indirectamente o “céu” suposto no pano de fundo das estrelas e da nuvem. Este afastamento é verdadeiro quanto ao modo de sematização da parofonia mas não quanto à representação em si mesma. É perfeitamente possível um céu vermelho à tarde ou pela manhã, admitindo ainda nestas ocasiões a visibilidade da nuvem e das estrelas ou dos planetas mais brilhantes. Contudo, ungo vai aplicar-se primariamente sobre a superfície do escudo especificada em area e apenas depois sobre os céus, como consequência natural do conjunto imagético que se pressupõe coerente. A sematização estabelece a metonímia: área > campo > campo do escudo > escudo. Encontramos um paralelo da unção dos escudos neste trecho do Segundo Livro de Samuel: ... O escudo de Saul não foi ungido com óleo, mas com o sangue dos feridos e a gordura dos guerreiros ...[1]. Tal como nos escudos medievais feitos de madeira e recobertos de couro a boa manutenção exigia uma protecção periódica. Não será, todavia, o óleo a colorir o artefacto de defesa usado por Sagremor, mas a ideia implícita de que era feito ou recoberto de couro, logo avermelhado ou acastanhado, colorações passíveis de inspirar o esmalte vermelho na representação do escudo heráldico.

A conjugação cromática aparenta ser arbitrária mas as dúvidas desvanecem-se ao examinarmos em pormenor a análise já efectuada. A seleccionarem-se convenientemente cores naturais, as estrelas fora do cantão serão amarelas, brancas ou azuis. Do mesmo modo a nuvem poderia ser branca ou negra, enquanto que o escudo de couro tratado pelo tanino apenas admitiria o vermelho. Quanto à estrela encoberta consentiria o negro ou eventualmente o branco, como descoloração do outro esmalte estelar que representasse a luz. Ficamos com as seguintes possibilidades, dispondo as cores pela ordem: estrelas, campo, cantão, estrela do cantão.

Azul + Vermelho + Negro + Prata (não) 
Azul + Vermelho + Negro + Negro (não) 
Azul + Vermelho + Prata + Prata (não) 
Azul + Vermelho + Prata + Negro (não) 
Ouro + Vermelho + Negro + Prata (não) 
Ouro + Vermelho + Negro + Negro (não) 
Ouro + Vermelho + Prata + Prata (não) 
Ouro + Vermelho + Prata + Negro (sim) 
Prata + Vermelho + Negro + Prata (não) 
Prata + Vermelho + Negro + Negro (não) 
Prata + Vermelho + Prata + Prata (não) 
Prata + Vermelho + Prata + Negro (sim) 

É possível observar que das doze hipóteses apenas duas são inteiramente admissíveis. Grande parte das opções é rejeitada pela aplicação da lei dos contrastes. Duas estarão no limite da admissibilidade ao incluir uma nuvem negra, que estimamos não fosse de primeira escolha, além de figurar o esmalte vermelho vizinho ao negro, apesar de por vezes encontrarem-se juntos na heráldica. Finalmente, restam dois arranjos bem-sucedidos dos quais um repete o esmalte do par de estrelas iguais na nuvem, proposta mais pobre do que a oitava combinação, coincidente com a escolha do brasão de Sagremor, o que não nos surpreende. 

Poderíamos ser tentados a associar ungo com a unção das sagrações reais, por Sagremor descender do rei da Hungria e da filha do imperador de Constantinopla. Ainda assim, a experiência nos aconselha a não confundir os planos semânticos da parofonia com os planos estritamente biográficos, não se exceptuando os fantasiosos. A obtenção do desenho está isolada de outros relacionamentos que não os estabelecidos pela metonimização do referente. Mesmo dando-se o caso da possibilidade de escolha entre vários traços heráldicos, temos observado a preferência de acompanhamento dos estilos visuais de cada época, ao invés de escolhas baseadas no percurso particular do representado. Tal porém já não acontece nas armas alusivas.

Apesar disso considerou-se o próprio nome de Sagremor, com uma solução do tipo Sagremor ~ Sacre (fra. sagração) en or (fra. em ouro), seguindo-se contudo os procedimentos habituais. Assim a unção, ao menos desta vez, ligar-se-ia à entronização dos seus ascendentes e imaginaríamos as estrelas como manchas de óleo sobre as vestes régias em vermelho, cor já usada nas cerimónias medievais. O componente en or diria respeito aos utensílios necessários à guarda e aplicação do óleo, também referenciáveis pela história. Esta solução entra em conflito com o plano semântico apresentado anteriormente, que favorece ungo na forma de acção utilitária. Para mais, teríamos de explicar o cantão e a estrela negra, dificuldade de resolução improvável. Preferimos imaginar aqui uma possível interpretação textual, redundante com o que já se propôs, mas de nenhum modo ligada à proposta semântica visual. Resta-nos aguardar por outros estudos sobre os Cavaleiros da Távola Redonda para decidir sobre a existência de algum padrão comum quanto ao uso da antroponímia dos armigerados.

[1] 2 Sm 1, 21-22.

 

 


Sagremor - Armas de Fantasia (I)

Classificação Descrição
Armas de Fantasia R Sagremor
Território M Hungria
Língua de Fantasia V Ungaria (latim)
Denominante A Ungaria
Grafemização A U  |  N  |  G  |  A  |  R  |  I  |  A
Fonemização denominante A u  |  N  |  G  |  a  |  4  |  i  |  a
Emparelhamento A u  |  N  |  G  |  a  |  4  |  i  |  a
A u  | N |  G  | oa |  4  |  e  |  a
Coeficiente de transposição A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0
Coeficiente de carácter A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,5 | 0,0 | 0,5 | 0,0
Coeficiente de posição A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 1,0 | 0,0 | 1,0 | 0,0
Parcelas A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,5 | 0,0 | 0,5 | 0,0
Índice de discrição A k = 0,25
Fonemização designante A u | N | G | o |   | a | 4 | e | a
Grafemização A U | N | G | O |   | A | R | E | A
Designante A ungo | area
Acção + Geometria E unto + área
Monossemia simples S vermelho
S unto o escudo
Metonímia simples S área > campo > campo do escudo > escudo
Esmalte H avermelhado De vermelho
Imanência C couro
Contraste C ouro, prata
Número H um
Separação H cantão
Esmalte H de prata
Conectivo H e
Número H três
Figuração H estrelas de cinco pontas
Número H duas
Esmalte H de ouro
Conectivo H e
Número H uma
Esmalte H de negro
Localização H no cantão

(próxima análise neste blog aqui)



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Sábado, 7 de Julho de 2012

Sagremor: Cantão de Prata

Sagremor - Armas de Fantasia

 

Continuaremos a caracterizar as armas de Sagremor neste terceiro plano semântico. Estabelecidas as coordenadas húngaras das metonímias referentes, é natural que se continue pelo mesmo tom, obedecendo à restrita tipologia definida nos quase dois mil traços heráldicos já investigados. Para Sagremor encontrámos num  primeiro nível semântico a metonimização do seu referente em território, em gentílico no segundo e finalmente em hidrónimo no que iremos desenvolver a seguir.

Continuando com a expressão verbalizante em latim, achamo-nos desta vez perante o majestoso rio de Budapeste, o denominante Danubius (lat. Danúbio). Resulta num índice de discrição bastante favorável, k = 0,14, parófono ao designante da (lat. diz) nubis (lat. nuvem). Ressaltamos tomar-se iu em Danubius como ditongo, porque este i é breve, figurando assim numa única célula a emparelhar com o outro i de nubis. Note-se que a contagem do número máximo de fonemas alterou-se de oito para sete por este motivo. O verbo do (lat. dar) possui um grande número de acepções, das quais algumas poderiam ser usadas no contexto. Pensamos, contudo, que a forma imperativa da segunda pessoa é a mais adequada, com o sentido de “Diz!” ou Explica!.

Danubius ~ Da nubis produz uma monossemia simples, já que é responsável pelo cantão em prata. É bem verdade que a alteração do esmalte da estrela correspondente de ouro em negro também lhe será imputada, mas como consequência secundária da sematização dos traços heráldicos pré-definidos. Como no nível precedente há metonímia redundante: diz não está associado a qualquer traço heráldico mas à própria função parofónica do escudo pelas contiguidades diz > falante > armas falantes, o que de facto são. O segundo termo, nubis, não deixa qualquer lugar a dúvidas, seja pelo sentido, seja pela complementaridade ao que se tinha já averiguado. Definido que estava o tema estelar, nada mais apropriado do que este fenómeno meteorológico para conjugar uma belíssima ordenação heráldica.

A nuvem é branca, convenientemente, e esconde a luz ao “passar” em frente a uma das estrelas, transformando o seu esmalte dourado. Assinalamos, pois, o fenómeno sematizante de oposição entre a luz e a obscuridade. Ademais, a estrela solitária vai colocar-se exactamente no centro do cantão, a condicionar o posicionamento das outras duas, como referido. Percebe-se com clareza a exigência do processo iterativo na génese destes brasonamentos medievais. Não seria possível definir o arranjo das estrelas e da nuvem em duas construções estanques e independentes. O brasonamento estabelece ainda que a estrela deve achar-se sobre o cantão, apesar da semântica demandar o inverso, fazendo-nos entender que nem sempre a descrição expressiva formal será um guia mais adequado para a compreensão do conteúdo subjacente. Creio que será esta a dificuldade capital para que a ciência heráldica liberte-se das interpretações convencionalizadas pelas normativas tardias.

Segundo parece, simboliza-se no desenho outra característica imanente às nuvens, o movimento, talvez em simultâneo com o fenómeno de complementação dos traços heráldicos. A nebulosidade não poderia ocupar todo o campo do brasão: perderia muito da sua força expressiva. Excluímos assim de todo a obstrução das três estrelas. Só a oposição amarelo × negro permite vislumbrar com clareza o enredo que se procura representar. A ocupar apenas um pedaço do campo, um farrapo de nuvem apresta-se a ocultar apenas uma estrela, também no primeiro cantão do esquartelado, como é hábito, aliás, nos brasonamentos. Ao mesmo tempo esta localização provoca o desequilíbrio visual pela assimetria dos espaços cromáticos. O desequilíbrio traduz-se em movimento e vai contribuir à semântica através de outra metonímia: nuvem > movimento > desequilíbrio > assimetria. A opção de usar-se, por exemplo, um contrachefe em branco, deixaria a desejar pela estabilidade implícita.

 

 


Sagremor - Armas de Fantasia (III)

Classificação Descrição
Armas de Fantasia R Sagremor
Hidrónimo M Danúbio
Língua de Fantasia V Danubius (latim)
Denominante A Danubius
Grafemização A  D  |  A  |  N  |  U  |  B  |  I  |  U  |  S 
Fonemização denominante A d  |  a  |  n  |  u  |  b  |  iu |  s 
Emparelhamento A d  |  a  |  n  |  u  |  b  |  iu |  s 
A d  |  a  |  n  |  u  |  b  |  i |  s 
Coeficiente de transposição A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0
Coeficiente de carácter A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,5 | 0,0
Coeficiente de posição A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 1,0 | 0,0
Parcelas A 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,0 | 0,5 | 0,0
Índice de discrição A k = 0,14
Fonemização designante A d | a |   | n | u | b | i | s
Grafemização A D | A |   | N | U | B | I | S
Designante A da | nubis
Acção + Meteorologia E diz + nuvem
Redundância, metonímia simples S diz › falante › arma falante
S diz
Monossemia simples S cantão
S nuvem
Esmalte H De vermelho
Número H 1 um
Separação H farrapo cantão
Imanência C nuvem
Localização C primeiro quartel
Simetria C assimétrico
Metonímia simples S nuvem › móvel › desequilíbrio › assimetria
Esmalte H esbranquiçada de prata
Imanência C nuvem
Contraste C vermelho, negro
Conectivo H cantão + estrelas e
Número H três
Figuração H estrelas de cinco pontas
Número H duas
Esmalte H de ouro
Conectivo H estrelas + estrela e
Número H 1 uma
Figuração H 5 pontas(estrela)
Preenchimento C área do cantão
Simetria C eixo vertical do cantão
Centralidade C diagonais do cantão
Esmalte H obstrução de negro
Imanência C nuvem
Contraste C prata
Oposição S luz × obscuridade
Localização H debaixo da nuvem no cantão

(próximo artigo nesta série III/III)



Publicado por 5x11 - Carlos da Fonte às 13:56
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Quinta-feira, 28 de Junho de 2012

Sagremor: Estrelas

Sagremor - Armas de Fantasia

 

(poderá ler 1º um artigo mais simples aqui ou usar a terminologia / pesquisa)

Tratando-se das armas fantasiosas de um personagem que também não pertence ao domínio das pessoas tangíveis, as considerações históricas não são tão determinantes como em circunstâncias autênticas; isso não quererá dizer que deixem de se ater à realidade. Existem distintas versões que descrevem Sagremor, apenas retemos a mais consensual e que parece corresponder às armas em estudo, decerto devem tê-las inspirado. Sagremor, dito “O Desvairado”[1], da Hungria ou de Constantinopla era um dos Cavaleiros da Távola Redonda, filho do rei da Hungria e da Valáquia, que tinha vindo à corte do Rei Artur para juntar-se à mãe, Indranes, filha de Adriano, imperador de Constantinopla, entretanto viúva, agora casada com o rei Brangore[2]. Esta escassa biografia é suficiente para que desenvolvamos a nossa análise, tanto mais que no método parofónico devemos, acima de tudo, determinar bem a situação geográfica na génese do brasão. Além disso, Sagremor foi usado por nós como paradigma para o estabelecimento de um limiar comparativo com o objectivo de medir o índice de discrição[3]. Assim este estudo tem o atractivo suplementar de não poder ter sido escolhido em função de uma qualquer conveniência facilitadora da nossa tarefa.

O latim deverá ser a língua mais adequada para activar o processo de verbalização que se nos apresenta. Desconfiamos da capacidade de expressão em húngaro do criador das armas e verificamos mais uma vez a longínqua situação geográfica do tema armorial em relação a este, possivelmente na esfera anglo-normanda ou francesa. A metonímia do referente neste segundo nível semântico recorre ao gentílico dos nascidos na capital húngara ao tempo do Rei Artur, Aquincum, junto à actual cidade de Buda, embora a continuidade de ambas talvez não se verifique. Contudo, o enredo das lendas arturianas é tipicamente contemporânea aos seus autores medievais, daí que Aquincum deva referir Buda, como versão para o latim, e não a própria Aquincum. Penso que Aquincenses não descreva os súbditos húngaros daquela cidade mas, particularmente, a origem familiar de Sagremor. Seria possível usar o singular, Aquincensis, para centrar melhor o foco semântico na pessoa em epígrafe.

O cálculo do índice de discrição não apresenta quaisquer novidades pelo que, desta vez, não justificaremos em pormenor a sua obtenção. As análises anteriores serão suficientes para compreender os procedimentos usados. Apenas observamos que o valor final, k = 0,31, é perfeitamente credível, levando-nos a acolher a hipótese parofónica. Obtida a parofonia Aquincenses ~ Ac quini sentes, passaremos a analisar cada um dos seus termos.

A conjunção aditiva ac (lat. e) não é apenas um artifício parofónico. Na verdade faz depender o conjunto ac quini sentes de outros componentes parofónicos que eventualmente viessem a aparecer. Neste aspecto é uma redundância porque os traços heráldicos dependem, na verdade, do seu próprio processo de sematização. Diga-se que não sabemos qual a ordem original pela qual constituíram-se os traços heráldicos; é admissível que, de um modo geral, fosse um processo repetitivo, ajustando-se a pouco e pouco uma solução satisfatória. O termo quini (lat. cinco cada um) denota não apenas a quantidade cinco mas também que ela diz respeito a mais do que uma figuração. Por inerência sugere que se disponham estes cinco sub-elementos num arranjo, interpretado como um polígono estrelado. Estabelecidos o numeral e a conjunção, seria útil mais concisão no terceiro termo, permitindo determinar algo de substantivo para o desenho do brasão. Isso fez-nos preferir sentes (lat. silvas, espinhos) a sentis (lat. sentes, percebes) ou ao declinado sentus/sentis (lat. espinhoso) ou mesmo ao parofónico censes (lat. contas, avalias).

A etapa de sematização realiza-se por monossemia simples, se bem que não seja perceptível de imediato. Só através da metonímia cinco espinhoscinco pontas estrela fica estabelecida uma ligação clara entre o designante e o traço heráldico. A escolha de um tema geométrico ou astronómico em lugar de, por exemplo, um traço vegetalista, uma espora ou um estrepe, poderia nos fazer suspeitar da existência de uma simplificação extremada, habitual na heráldica mais antiga. Não pondo inteiramente de parte este contágio, é de assinalar que o terceiro nível semântico, a estudar no próximo artigo, exige a temática sideral.

Apesar da simplicidade é preciso consignar o efeito dos agentes de complementação, intrínsecos à construção dos traços. Logicamente, há uma simetria radial dos raios estelares e as figuras estão orientadas segundo uma estabilização horizontal, na única posição possível para o “apoio” simultâneo em duas pontas. Mais ainda, cada localização depende fundamentalmente da posição da estrela negra. Esta surge no centro do cantão e a partir daí fica condicionada a posição da segunda estrela, no alinhamento da primeira e a uma igual distância da borda. A terceira deverá colocar-se no eixo vertical, obedecendo também à homogeneidade dos distanciamentos. A disposição em contra-roquete acompanha a forma geral do escudo e por esta mesma razão é sempre a favorita para o arranjo de três figurações, não sendo necessário enunciá-la no brasonamento. Resta manter as proporcionalidades dimensionais pelo preenchimento harmónico do campo e impor a absoluta igualdade das figurações.

Esta versão das armas de Sagremor obedece integralmente à lei dos esmaltes[4]. Será mesmo esta normativa que ajudará a compreender mais tarde a razão da sua escolha. Por agora limitar-nos-emos a reter a ligação do metal dourado das estrelas ao fenómeno luminoso, conexão bem frequente nas análises efectuadas no passado. Também é possível que estas figurações fossem tomadas por planetas, dados a sua dimensão aparente e brilho que tende ao amarelado. Um brasonamento descreve: “de gueules à 2 planètes d'or, au franc-canton d'argent à une planète de sable[2].

Seria viável usar outros esmaltes como o prateado ou o azul mas a conjugação de todas as cores necessárias ao desenho não o aconselhará. Por outro lado, a presença de uma estrela negra, inexplicável pela imanência luminosa, entende-se perfeitamente ao avançarmos que representa o seu oposto, a escuridão. Este obscurecimento é semanticamente transitório e por isso o segundo nível deverá ser representado por todas as três estrelas em dourado. Por último, referimos que a partir daqui representaremos os traços de outros planos semânticos pela cor amarelo-banana[5], de modo a realçar apenas os elementos pertinentes à discussão.

[1] Tradução livre de desreez › dérangé.

[2] MERLET, Lucien - Coutumes des Chevaliers de la Table Ronde - Mémoires de la Société Archéologique d'Eure-et-Loir - Tomo VI - Chartres - Petrot-Garnier Libraire - 1876.

[3] Por Michel Pastoureau ter sugerido umas armas falantes Sagremor ~ sycomore, a nosso ver no limite da razoabilidade, daí tornar-se num limiar adequado para a aceitação das demais parofonias: “Pour doter Sagremor d’armoiries la solution la plus simple aurait été de lui donner une figure parlante, en occurence un sycomore”, nas Referências Bibliográficas (PASTOUREAU, 1986, p. 25).

[4] Ver, contudo, a versão, quase certamente adulterada, que se menciona em: SCOTT-GILES, Charles W. - Some Arthurian Coats of Arms - Coats of Arms - nº 64-65, 1965/1966 - Baldock: Acedido a 27 de Junho de 2012, disponível em: <http:// www.theheraldrysociety.com>, 2012. 

[5] Cor que dificilmente aparecerá nos brasões, evitando-se ambiguidades, e de contraste satisfatório com os esmaltes heráldicos.

 



Sagremor - Armas de Fantasia (II)

Classificação Descrição
Armas de Fantasia R Sagremor
Demónimo M Budenses
Língua de Fantasia V Aquincenses (latim)
Denominante A Aquincenses
Grafemização A  A  |  Q  |  U  |  I  |  N  |  C  |  E  |  N  |  S  |  E  |  S 
Fonemização denominante A a  |  k  |  w  |  i  |  N  |  s  |  e |  N  |  s  |  e  |  s
Emparelhamento A a  |  k  |  w  |  i  |  N  |  _  |  s  |  e |  N  |  s  |  e  |  s
A a  |  k |  w  |  i  |  N  |  i  |  s  |  e  |  N  |  t  |  e  |  s
Coeficiente de transposição A 0,0|0,0|0,0|0,0|0,0|0,0|0,0|0,0|0,0|0,0|0,0|0,0
Coeficiente de carácter A 0,0|0,0|0,0|0,0|0,0|1,0|0,0|0,0|0,0|1,0|0,0|0,0
Coeficiente de posição A 0,0|0,0|0,0|0,0|0,0|1,0|0,0|0,0|0,0|1,0|0,0|0,0
Parcelas A 0,0|0,0|0,0|0,0|0,0|1,0|0,0|0,0|0,0|1,0|0,0|0,0
Índice de discrição A k = 0,31
Fonemização designante A a | k |  | k | w | i | N | i |  | s | e | N | t | e | s
Grafemização AA | C |  | Q | U | I | N | I |  | S | E | N | T | E | S
Designante A ac | quini | sentes
Qtd+ Geomª + Geomª E e cinco + espinhos + cada um(a)
Redundância S existem outros níveis semânticos
S e
Monossemia simples S estrelas
S cinco espinhos cada uma
Esmalte H De vermelho
Número H um
Separação H cantão
Esmalte H de prata
Conectivo H e
Número H cada, 3 três
Metonímia simples S 5 espinhos > 5 pontas > estrela
Figuração H 5 pontas estrelas de cinco pontas
Imanência C estrela
Simetria C radial
Orientação C estabilidade
Localização C estrela negra
Disposição H 2, 1(em contra-roquete)
Imanência C constelação
Preenchimento C área do escudo
Simetria C eixo do escudo
Centralidade C abismo
Número H 3 - 1 = 2duas
Esmalte H luz de ouro
Imanência C estrela
Contraste C vermelho
Conectivo H e
Número H uma
Esmalte H de negro
Localização H no cantão

(próximo artigo nesta série II/III)



Publicado por 5x11 - Carlos da Fonte às 13:17
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Quarta-feira, 13 de Junho de 2012

Salerno: Sol e Esmalte Prata

Salerno - Armas de Fantasia

 

Está no Armorial Wijnbergen, documento francês de fins do século XIII[1]. Parece consensual que é falante, mas nunca nos pareceu justificar-se com suficiência o porquê. A razão deve estar ligada ao esplendor da representação solar no centro do escudo, devidamente acompanhada pelos dezasseis raios da praxe heráldica[2]. Isso condicionaria a lógica semântica para a interpretação Salerno ~ Solerno, deixando como de hábito, o restante, tanto a sufixação rno como o fundo prateado, por expor. Poderíamos imaginar uma conexão ao domínio regional dos Hohenstaufen e ao mesmo esmalte do campo no seu escudo, mas não nos lembramos de alguém tê-lo suposto. Como é frequente nestes casos, é possível que se tenha apenas dado atenção aos elementos visuais inteligíveis de imediato.

Tentámos um esclarecimento mais completo no decorrer da tese, mas só agora foi possível chegar a resultados razoáveis o suficiente para defender. Na sucinta análise de então tínhamos optado pela parofonia, hoje abandonada, Salerno ~ Sole (ita. Sol) + ernia (ita. hérnia), com várias incongruências. A primeira refere-se à língua verbalizante, pela adopção do italiano Sole. Apesar do Armorial Wijnbergen ser o primeiro documento em que aparecem, não se garante que fosse ele a representação original destas armas de fantasia; em caso afirmativo optaríamos pelo francês ou pelo latim. Ademais não existem armoriais italianos anteriores nem sequer contemporâneos àquele, pelo que seria difícil aceitar o uso de uma das muitas variantes linguísticas medievais peninsulares. Também a integração semântica entre o “sol” e a “hérnia” é deficiente, apesar de justificarem a associação visual. Quanto ao insólito do “sol herniado”, isso não seria de modo nenhum um obstáculo. Na própria tese pudemos testemunhar na classe das armas reconhecidamente falantes um híbrido animal de cabra e galo, umas mãos cortadas pairando sobre um castelo e três espelhos gigantescos cravados em outras tantas montanhas[3]. Deixámo-nos por certo influenciar pelas interpretações convencionais já conhecidas, dando lugar de relevo ao Sol, forçando por isso uma transformação Sale/Sole. A elucidação do restante da parofonia, rno, é irremediavelmente prejudicada pelos mesmos motivos anteriores. Resta observar que igualmente ficou por explicar o esmalte branco ou prata do escudo.

O denominante agora usado, Salernum (lat. Salerno) é o nome da cidade e eventualmente o do respectivo território, que se presume ser o Principado apesar da integração factual ao Reino da Sicília e à menção no armorial a um fantástico, como de esperar, Rei de Salerno. Mais uma vez o latim aparece como língua de verbalização, consequentemente de fantasia, como em Portucalis ~ Porta cales. Não sabemos dizer se foi “escolhida” na qualidade de língua culta ou por uma natural associação ao território latino da Campânia.

No que diz respeito ao designante, Sal eremum, trata-se de uma polissemia composta porque os dois constituintes textuais irão gerar, mesmo se implicitamente, mais do que dois traços heráldicos. As traduções literais e isoladas de cada termo, sal e ermo ou deserto, podem ser integradas em “sal no deserto” e estender-se, com alguma liberalidade, a um “deserto de sal”. Se bem que o factualmente mais próximo, ao que se saiba, estivesse a Norte de África, iremos, mais uma vez, encontrar possíveis inspirações na Bíblia: … terram fructiferam in salsuginem, a malitia inhabitantium in ea // Il à changé le sol le plus fécond en un terrain aussi sec que si l'on y avoit semé du sel, et tout cela pour punir la méchanceté des habitants[4]. Contudo, é ao avançar na análise semiótica que nos convencemos da propriedade do que se concluiu.

Aparentemente, a integração no âmbito parofónico não se regeria por regras oracionais estritas, dificílimas de aplicar pela frequente ausência do verbo e condicionadas pelo método de obtenção das palavras, inteiramente acidental. Auxiliaria à transformação dos vocábulos ao tomar de início cada sentido isolado, só depois comum, de modo a obter-se uma ou mais imagens visuais. As declinações e todas as flexões em geral funcionariam mais como facilitadores da identidade denominante-designante do que como modificadores semânticos intervocabulares. Evidentemente, necessitam-se mais exemplos para adquirir segurança nesse tipo de generalizações.

Passemos ao cálculo do índice de discrição[5]. Após o emparelhamento do denominante com o designante /s//s/, /a//a/, /l//l/, /E//e/, /r//4/, /_//e/, /n//m/, /u//u/, /m//m/, observamos que há maior quantidade de fonemas no último, portanto max(nD,nd) = max(8,9) = 9[6]. Não existem quaisquer transposições, pelo que t = 0; passaremos a analisar as transformações fonéticas. Estas ocorrem nos emparelhamentos /E//e/, /r//4/, /_//e/, /n//m/; apenas o par /_//e/ é suficientemente heterogéneo para produzir c = 1,0; os outros três, assemelhados, fornecem c = 0,5. Todas as transformações encontram-se no interior das palavras e aplicar-se-á sempre p = 1,0. O somatório dá: 0,5 × 1,0 + 0,5 × 1,0 + 1,0 × 1,0 + 0,5 × 1,0 = 0,5 + 0,5 + 1,0 + 0,5 = 2,5 donde se obtém k = (2,5 × 2)/max(8, 9) = 5,0/9 = 0,556, logo, concluímos pela razoabilidade da parofonia, uma vez que k < 1. Não sabemos se seria possível incluir consistentemente na fórmula de cálculo de k um fenómeno específico a esta parofonia. Ocorre que os trechos /E/r/ ~ /e/4/e/ dificilmente justificariam uma tão grande influência no valor do índice de discrição, cerca de 80% do total k = 0,556. Ao nosso ouvido, a pronúncia de ambas as palavras denuncia uma certa fusão entre os fonemas mediais do designante, tendendo a elidir o segundo /e/, o que diminuiria significativamente o valor encontrado. De qualquer modo, nos parece prematuro aperfeiçoar a modelização nesta fase da pesquisa.

O primeiro elemento do designante, sal, aceita-se facilmente como estando representado no esmalte branco do escudo. Adianta-se que já encontrámos outros exemplos perfeitamente idênticos a esta associação parofónica. Contudo, talvez pareça desnecessário o aspecto redundante na semântica do segundo elemento, eremum, a reforçar o traço heráldico de preenchimento do espaço à volta do sol com a metonimização simples: deserto > amplo > escudo cheio. Para mais, o elemento salino, como sabemos, pode ser obtido pela acção evaporativa dos raios solares. Tal circunstância vai ligar-se por metonímia composta com a aridez que está associada ao deserto. Temos por um lado a sequência de metonimização: sal > evaporação > calor > Sol e pelo outro: deserto > quente > calor > Sol, convergindo ambas para um mesmo tema. Apesar da preeminência solar no desenho, este não passa de uma complementação na forma de adereço, nunca referido directamente pelo designante, como se acreditava anteriormente.

Num paralelo com Portucalis ~ Porta cales, vemos descritas duas versões visuais distintas do Sol. A primeira, simplificada ao máximo, fá-lo redondo e amarelo, na verdade numa função exclusivamente complementar, a caracterizar o azul do campo como um Céu e também a alimentar o fogo do Inferno. A segunda, esta que agora estudamos, mostra os traços clássicos de um Sol heráldico, com raios, centralizado e a ocupar o máximo possível do campo. Note-se que em ambos o disco solar é amarelo, enquanto que na segunda junta-se-lhe o esmalte vermelho a colorir a envolvência dos raios. Estes cromatismos poderiam estar fundamentados nas considerações mais elementares, talvez medievais, sobre a natureza do Sol. Enquanto que o seu calor parecia desvanecer-se quase completamente nos rigorosos Invernos europeus, a luz permanecia inalterada. Assim, a natureza fundamental do Sol deveria ter sido entendida mais como brilho luminoso e menos como potência calorífica. Talvez um reflexo das numerosas associações de Deus com a luz, possivelmente herdadas de crenças pagãs anteriores. Pelo contrário, seria possível associar o calor do Sol ao Inferno graças à autoridade divina, como vimos no artigo já referido acima. Esta dicotomia luz-calor é necessária ao traço heráldico de Salerno porque o calor é uma imanência tanto do deserto como do Sol, ainda mais ligado por metonímia ao sal. O amarelo estaria, portanto, associado à luz, enquanto que o vermelho representaria o calor. Apesar de sabermos perfeitamente que a sombra de sol[7] representa habitualmente aquele astro todo em vermelho, lembramos que as normas heráldicas irão constituir-se apenas muitos anos mais tarde. 

[1]  CLEMMENSEN, Steen - Armorial Wijnberghen - Farum: Acedido a 13 de Junho de 2012, disponível em: <http://www.armorial.dk>, 2009.
[2] TIMMS, Brian - Heraldry- [s.l]: Acedido a 13 de Junho de 2012, disponível em: <http://www.briantimms.fr>, 2011.
[3] Respectivamente condados de Ziegenhein, Antuérpia e Spiegelberg.
[4] BERTHIER, Guillaume F. - Les Psaumes Traduites en François, avec des Rèflexions - 3ª ed. Tomo IV - Adrien Le Clère  - Paris - 1807 - p. 592.
[5]  Ver o artigo Portucalis ~ Porta cales.
[6] Usamos, como de hábito, a codificação X-SAMPA.
[7] Designação do brasonamento de um sol com dezasseis raios, tudo em vermelho.

 

 


Salerno - Armas de Fantasia

Classificação Descrição
Armas de Fantasia R Rei de Salerno
Territorial M Salerno
Língua de Fantasia V Salernum (latim)
Denominante A Salernum
Grafemização A  S  |  A  |  L  |  E  |  R  |  N  |  U  |  M 
Fonemização denominante A [  s  |  a  |  l  |  E  |  r  |  n  |  u  |  m ]
Emparelhamento A [  s  |  a  |  l  |  E  |  r  |  _  |  n  |  u  |  m ]
A [  s  |  a  |  l  |  e  |  4  |  e  |  m  |  u  |  m ]
Coeficiente de transposição A 0,0|0,0|0,0|0,0|0,0|0,0|0,0|0,0|0,0
Coeficiente de carácter A 0,0|0,0|0,0|0,5|0,5|1,0|0,5|0,0|0,0
Coeficiente de posição A 0,0|0,0|0,0|1,0|1,0|1,0|1,0|0,0|0,0
Parcelas A 0,0|0,0|0,0|0,5|0,5|1,0|0,5|0,0|0,0
Índice de discrição A k = 0,56
Fonemização designante A [  s  |  a  |  l  |  _  |  e  |  4  |  e  |  m  |  u  |  m ]
Grafemização A  S  |  A  |  L  |  _  |  E  |  R  |  E  |  M  |  U  |  M 
Designante A sal | eremum
Polissemia composta S sal | deserto
S sal | quente, amplo, árido
Material + Toponímia E sal + deserto
Esmalte H esbranquiçado De prata
Imanência C sal
Contraste C vermelho
Separação H amplidão (cheio)
Imanência C deserto
Metonímia simples S deserto > amplo > escudo cheio
Número H 1 uma
Metonímia composta 1/2 S deserto > árido > quente > calor > Sol
Figuração H Sol sombra de Sol
Preenchimento C área do escudo
Centralidade C coração do escudo
Adereço C fonte de calor
Esmalte H calor(de vermelho)
Imanência C Sol
Contraste C prata, ouro
Metonímia composta 2/2 S sal > evaporação > calor > Sol
Conectivo H sombra de Sol + besante carregada de
Número H 1 um
Figuração H redondo besante
Imanência C Sol
Esmalte H luz de ouro
Imanência C Sol
Contraste C vermelho

(próxima análise neste blog aqui)



Publicado por 5x11 - Carlos da Fonte às 15:21
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